Faleceu neste sábado, 31 de dezembro de 2022, o Papa emérito Bento XVI, aos 95 anos. Desde quarta-feira passada, quando o Papa Francisco afirmou que seu predecessor estava muito doente, fiéis do mundo inteiro se uniram em oração pela saúde do Papa emérito. Bento XVI vivia no Mosteiro Mater Ecclesiae desde sua renúncia ao ministério petrino, em 2013.
O corpo do Papa emérito estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.
Bento XVI e a evangelização das Famílias
Desde o cardinalato, Joseph Ratzinger teve atuação preponderante para o trabalho atual de evangelização das famílias. No Sínodo de 1980, com o tema da Família cristã no mundo contemporâneo, ele foi o relator e pôde desenvolver, na ocasião, uma análise ampla e pormenorizada sobre a situação da família no mundo, realçando a este propósito a crise da cultura tradicional diante da mentalidade tecnicista e meramente racional.
Ao lado dos aspectos negativos, não deixou de evidenciar a redescoberta do verdadeiro personalismo cristão como fermento que fecunda a experiência conjugal de muitos casais, e exortou também a uma correta avaliação do papel da mulher, que deve ser incluída entre as questões fundamentais na reflexão sobre o matrimónio e a família. Tais reflexões ajudaram na elaboração da exortação apostólica Familiaris Consortio, do Papa João Paulo II.
Ele também refletiu naquela oportunidade sobre o desígnio de Deus sobre as famílias da época. O cardeal Ratzinger recordou, sobretudo, que a masculinidade e a feminilidade são expressão da comunhão das pessoas como sinal original do dom de amor do Criador. Portanto, realçava que o amor do homem e da mulher não é privado, nem profano, nem meramente biológico, mas algo de sagrado que introduz num “estado”, numa nova forma de vida, permanente e responsável.
Salientou ainda que o matrimônio e a família precedem de qualquer maneira o Estado e ele deve respeitar o direito próprio do matrimónio e da família e o seu íntimo mistério. Na terceira parte de sua contribuição, o purpurado enfrentou os problemas pastorais ligados à família: da construção de uma comunidade de pessoas ao da geração da vida, da tarefa educativa à necessidade da preparação dos jovens para o matrimônio e para a vida familiar, das tarefas sociais às culturais e morais. A família, concluía, pode testemunhar ao mundo uma nova humanidade face ao domínio do materialismo, do hedonismo e da permissividade.
Reflexões como Papa
Eleito Papa em 19 de abril de 2005, como sucessor de João Paulo II, e iniciando o pontificado no dia 24 de abril, Bento XVI ofereceu várias reflexões sobre a família e a vida.
Através de textos, homilias, audiências gerais e pronunciamentos dos anos de 2005 e 2006, Bento XVI convidou os casais a enraizarem a vida e o amor conjugal no Sacramento do Matrimônio e pediu aos jovens, como pai, que se mantenham longe das drogas.
Nesses pronunciamentos reunidos numa coletânea preparada pela Comissão Nacional da Pastoral Familiar, também fala do início da vida cristã pelo Batismo das crianças, e da necessidade de defender e promover a vida humana, da concepção à sua fase terminal.
A santidade, um dos temas em que se destaca a continuidade em relação ao pontificado de João Paulo II, também é abordada. Ele ressalta que é possível a todos buscar uma vida santa.
Sobre as famílias em pronunciamento no Brasil
Em sua visita ao Brasil, em 2007, o Papa Bento XVI falou sobre suas preocupações relacionadas às famílias da América Latina e reforçou sua identidade de “patrimônio da humanidade”. Confira abaixo o trecho na íntegra:
A família
A família, “patrimônio da humanidade”, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos. Ela foi e é a escola de fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e é acolhida generosa e responsavelmente. Todavia, na atualidade sofre situações adversas provocadas pelo secularismo e pelo relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos, pela pobreza, pela instabilidade social e pelas legislações civis contrárias ao matrimônio que, ao favorecer os anticoncepcionais e o aborto, ameaçam o futuro dos povos.
Em algumas famílias da América Latina persiste infelizmente ainda uma mentalidade machista, ignorando a novidade do cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem.
A família é insubstituível para a tranquilidade pessoal e para a educação dos filhos. As mães que desejam dedicar-se plenamente à educação dos seus filhos e ao serviço da família devem gozar das condições necessárias para o poder fazer, e por isso têm direito de contar com o apoio do Estado. De fato, o papel da mãe é fundamental para o futuro da sociedade.
O pai, por seu lado, tem o dever de ser verdadeiramente pai que exerce a sua indispensável responsabilidade e colaboração na educação dos seus filhos. Os filhos, para o seu crescimento integral, têm o direito de poder contar com o pai e com a mãe, que se ocupem deles e os acompanhem rumo à plenitude da sua vida. Portanto, é necessária uma pastoral familiar intensa e vigorosa. É indispensável de igual modo promover políticas familiares autênticas que respondam aos direitos da família como sujeito social imprescindível. A família faz parte do bem dos povos e da humanidade inteira.
Com informações da Santa Sé.