Há um dilema que poucas pessoas querem resolver hoje em dia: educar ou ideologizar?
A transmissão de conhecimentos, que realmente conduzem, para dentro e para fora das crianças, dos jovens e dos cidadãos, todas suas potencialidades e talentos, é uma educação válida. Pretende-se mesmo nos planos educacionais do Brasil educar o povo para construir uma nação? Há dúvidas a esse respeito em muitas cabeças lúcidas do país. A transmissão de idéias, de opiniões, de linhas de pensamento, que condicionam e manipulam a razão e os sentimentos humanos é, com certeza, uma ideologização. O país precisa de ideologias manipuladoras e impostas para ser um Brasil destacável no cenário internacional? Com certeza, não!!
Sabe-se que toda ideologia introduzida nos planos de educação para a infância e a juventude tem, sem sombra de dúvida, a pretensão de “conquistar inteligências”, a fim de utilizar as crianças e os jovens para objetivos de determinados grupos, com instruções duvidosas ou, inclusive, com objetivos bem declarados no nosso meio político cultural.
A ideologia do gênero é uma dessas pretensiosas tentativas de “arrebanhar” pessoas no período de formação intelectual e ética, onde são colocados os principais alicerces das verdades e dos valores fundamentais, para que sobre eles se edifiquem as restantes etapas de desenvolvimento humano e social.
A ideologia do gênero possui várias ferramentas para manipular a linguagem e para desinformar as pessoas, tanto as pessoas do corpo docente – professores – como as do corpo discente – alunos –; umas dessas ferramentas, e muito utilizada na cultura atual, é a palavra discriminação.
Basta colocar esse termo num cabeçalho de artigo ou no seu conteúdo, para que cabeças se inclinem e joelhos de dobrem “adorando” os argumentos apresentados em seguida a ele.
A discriminação de pessoas homoafetivas tem seu “altar de adoração”, que é a homofobia; a discriminação de pessoas de etnia afro tem o seu “altar”, que é o racismo; a discriminação da mulher, possui um altar rosado, que é feminismo de terceira geração. Quem não inclinar, reverentemente, a cabeça, e quem não fizer uma genuflexão solene, com os dois joelhos, diante desses altares, é porque não foram “devidamente educados” na vida. Só a “educação ideologizada” permitirá esses gestos de idolatria ao gênero.
No Brasil está sendo votado, numa comissão especial da Câmara dos Deputados em Brasília, o Plano Nacional de Educação (PL 8035/2010), cujo relator, deputado federal do PT do Paraná, repeliu, sem justificativa nenhuma, o texto enviado pelo Senado, em cujas páginas não aparecia a ideologia de gênero.
Esse deputado, certamente laico, mas em exercício do “seu sacerdócio sagrado” e rendendo tributo à “religião” ensinada pelos ideólogos da cultura do gênero, quer impor, na educação da infância e da juventude brasileira, o culto aos deus da “construção culturalmente livre” do sexo das crianças e dos jovens do nosso país.
Essa ideologização da educação acaba oferecendo aos futuros construtores da civilização brasileira e da cultura do povo mais acolhedor do mundo, a oportunidade de “monopolizarem” os três alicerces fundamentais da sociedade: a sexualidade humana, a família e os valores éticos.
Quem pretende monopolizar e manipular esses três fundamentos da nossa Nação? São os controladores da população, são os ativistas dos direitos arbitrários, são os que só falam a língua do “politicamente correto”, são os desconstrutores da linguagem, enfim, são os “novos sacerdotes” do Estado laicista.
A ideologia do gênero é tão perniciosa, que não atrai nem convence as pessoas bem educadas, e por isso mesmo, só pode ser implantada de forma totalitária.
Trata-se, em definitiva, da ditadura do relativismo, tão de moda numa sociedade e numa cultura, que se auto-intitulam democráticas.
Querem impor no Brasil um novo modelo antropológico (?), que seria a origem de uma nova cosmologia e que transformaria totalmente as pautas éticas da sociedade.
Como acontece com todas as ideologias enganosas, a ideologia do gênero não surgiu no horizonte cultural por geração espontânea. Várias correntes de pensamento contribuíram com diversos elementos e entre eles destacam-se a revolução sexual, a filosofia da desconstrução da cultura judaica-cristã, os existencialistas ateus, o feminismo radicalizado e depreciativo e as políticas anti-vida. Por isso mesmo essa ideologia não deveria ter um espaço tão amplo num plano nacional de educação.
A educação não deve – não pode – ser entregue nas mãos desses “pseudo- mestres” de “verdade geradas” na penumbra das idéias e das opiniões tão alheias à dignidade da inteligência e da liberdade humana.
O Papa Francisco tem, exercido com suas atitudes e ensinamentos, no cenário mundial uma missão pedagógica inquestionável e seu estilo otimista, positivo e aberto, tem sido uma exortação para todas as Nações no sentido de que cada povo seja o criador da sua própria cultura e protagonista da sua história única.
Daí que a educação autêntica de um povo reclama uma imparcialidade ideológica. Educação, sim! Ideologias, não! É um sonho, mas um sonho também realizável no nosso país, se as famílias e as religiões presentes no Brasil defenderem seus filhos e crentes.
Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro