Caríssimos irmãos, há mais ou menos um ano, fui procurado por um casal jovem que estava vivendo uma situação muito difícil. Eles tinham recebido a notícia de que ela estava gestando uma criança “anencéfala”.
Diante de tal situação, sentia-me impotente, mas com a convicção de que o Senhor tinha colocado esse casal à minha frente para que eu pudesse ajudá-lo. Confesso que para mim não foi fácil, pois acredito que, no mundo em que nós vivemos, situações como essas são tratadas com muita frieza ou de forma mui simplista. Com efeito, esse caso não fugiu à regra… o médico tinha feito o diagnóstico e já tinha aconselhado o aborto, porque “o objeto que estava dentro dela não era um pessoa, pois não tinha cérebro e não viveria muito tempo”.
A realidade era complexa porque eu me perguntava: “o homem é só cérebro? Como um médico pode estar com a consciência tranqüila, aconselhando a tal monstruosidade?” Sentia que o casal tinha tomado a decisão de fazer o aborto porque estavam impressionados com a explicação e com as fotos mal tiradas que o médico lhes apresentou. Sentia-me impotente, mas com a certeza de que o homem é muito mais que cérebro, que pernas, que braços… o homem tem uma realidade que lhe transcende, que não morre, que é espiritual!
Depois de três horas de conversa e ajudados também por uma médica católica, o casal convenceu-se de que a gravidez deveria ir até o final para experimentar o poder da vida.
Uma das coisas que me impressionaram neste tempo foi ver o semblante da mãe: em todos os momentos transmitia felicidade, paz… E, em alguns momentos, o combate e o medo de como tudo aconteceria, mas sempre ajudados pelo sacramento da eucaristia e o acompanhamento da médica.
Chegou o dia do nascimento de um grande menino. Cheguei cedo ao hospital, pois tinha prometido aos pais batizar a criança assim que viesse ao mundo, porque já sabíamos que o Senhor nos concederia a criança por alguns minutos.
Estava um pouco apreensivo, pois nunca tinha vivido uma experiência tão forte assim. Minha surpresa foi novamente encontrar com a mãe da criança antes do parto e notar que ela acariciava sua barriga, transmitindo naquele momento amor pelo seu filho.
Lembro-me de ter falado para os pais, nesses quatro meses, que deveriam aproveitar o tempo que o Senhor tinha concedido a eles de estarem com a criança, pois para nós, cristãos, somos chamados a viver cada minuto da nossa vida com intensidade porque a nossa existência aqui é muito breve; fomos criados por Deus para estarmos com Ele.
No momento do parto, ao estar novamente com a mãe da criança, encontrei uma mulher muito jovem (mais ou menos 19 anos), de rosto sereno e semblante que transmitia paz. Neste momento, enchi-me de alegria, pois percebi a presença do Senhor que estava com ela, dando-lhe forças para que testemunhasse que nós acreditamos num Deus de vivos e não de mortos, e que, para ele, cada pessoa (seja como seja) é importante e tem um valor grandíssimo.
Quando nasceu o menino, não podia acreditar no que eu estava vendo! Não tinha nada a ver com o que o médico tinha falado para os pais. O bebê tinha o corpinho perfeito, respirava, movimentava os braços, as pernas… pude administrar o sacramento do Batismo e sentir amor por aquela criança que estava com os olhos abertos. No momento em que derramei água na sua cabeça para o Batismo, caíram algumas gotas no seu olho e ele sentiu-se incomodado. Estive todo o tempo de vida com o recém-nascido! O Senhor concedeu-lhe a graça de nascer e de ser amado pelos seus pais e de ser testemunha de Cristo, servo sofredor, que aceitou a vontade de seu Pai naquele hospital. Para as enfermeiras, para os médicos, para os seus pais e, principalmente, para mim, que via naquele neófito a imagem de Cristo!
Foram 36 minutos de vida, durante os quais pude falar, rezar e até mesmo pedir a intercessão no céu por mim, pelos seus pais e pela nossa Paróquia. E assim o Senhor lhe chamou: “Vinde, benditos de meu Pai” (Mt 25, 34). Cumpriu-se a promessa de Cristo: “Pai, aqueles que me deste quero que onde eu estou também eles estejam comigo para que contemplem minha glória…” (Jo 17,24)
Nunca mais esquecerei este momento tão precioso para mim, à minha vida e ao amadurecimento da minha fé.
Gostaria de que neste momento, estivessem tantos que são a favor do aborto e que me tentassem explicar como é possível defender tal atitude diante de uma pessoa indefesa, seguindo a lógica de que só os perfeitos podem viver. Acredito que tais pessoas nunca experimentaram o amor. A pessoa não é só perna, só braço, só cérebro…
Senhores médicos, senhores políticos e todos aqueles que tem a autoridade de fazer leis, pensem naquilo que vocês estão tentando legalizar, pois aquilo que vocês falam não condiz com a experiência que eu vivi… não nasceu nenhum monstro, mas um filho de Deus que foi amado por Ele, pelos seus pais e por mim.
Pe. Alessander Carregari Capalbo
Padre Diocesano de Brasília