A Pontifícia Academia para a Vida (PAV), em acordo com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, publicou um documento no qual avalia a situação da terceira idade após o coronavírus. “A velhice: o nosso futuro. A condição dos idosos depois da pandemia” é o nome da publicação lançada nesta terça-feira (9) que traz uma série de reflexões e avalia as consequências do Covid-19 para a sociedade.
“Ser idoso é um presente de Deus e um enorme recurso, uma conquista a ser salvaguardada com cuidado, mesmo quando a doença se torna incapacitante e surge a necessidade de cuidados integrados e de alta qualidade. É inegável que a pandemia reforçou em todos nós a consciência de que a riqueza dos anos é um tesouro a ser valorizado e protegido”, ressalta o documento.
Um dos pontos destacados está relacionado às desigualdades sociais: “Estamos todos à mercê da mesma tempestade, mas num certo sentido, também se pode dizer que estamos remando em barcos diferentes: os mais frágeis estão afundando todos os dias. É indispensável repensar o modelo de desenvolvimento de todo o planeta”. A intenção é “propor o caminho da Igreja, mestra de humanidade, a um mundo transformado pela Covid-19, a mulheres e homens em busca de sentido e esperança para suas vidas”.
A quantidade de idosos mortos pela pandemia foi lembrada pela Pontifícia Academia para a Vida, especialmente aqueles que viviam em asilos – lugares que deveriam proteger a “parte mais frágil da sociedade” e onde a morte atingiu desproporcionalmente mais em relação ao ambiente familiar. “O que aconteceu durante a Covid-19 impede de descartar a questão com uma busca por bodes expiatórios, por culpados individuais. Por outro lado, é necessário que se levante um coro em defesa dos excelentes resultados daqueles que evitaram o contágio nos asilos. Precisamos de uma nova visão, de um novo paradigma que permita à sociedade cuidar dos idosos”.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050, haverá dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo: uma a cada cinco pessoas será idosa. Atualmente, o Brasil soma mais de 30 milhões de pessoas nessa faixa etária e a projeção, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é que cheguem a 73 milhões em 2060. “Portanto, é essencial tornar nossas cidades lugares inclusivos e acolhedores para os idosos e, em geral, para todas as formas de fragilidade”.
O documento evoca um “encontro” entre os jovens e idosos, ideia defendida com frequência pelo Papa Francisco. “O homem que envelhece não se aproxima do fim, mas do mistério da eternidade. Para entender isto ele precisa se aproximar de Deus e viver na relação com Ele. Cuidar da espiritualidade dos idosos, de sua necessidade de intimidade com Cristo e de partilha da fé é uma tarefa de caridade na Igreja”. A publicação deixa claro que “é somente graças aos idosos que os jovens podem redescobrir suas raízes, e é somente graças aos jovens que os idosos recuperam a capacidade de sonhar”.
“A velhice também deve ser entendida neste horizonte espiritual: é a idade propícia do abandono a Deus. À medida que o corpo enfraquece, a vitalidade psíquica, a memória e a mente diminuem, a dependência da pessoa humana de Deus parece cada vez mais evidente”, reforça.
A Pontifícia Academia para a Vida (PAV) também fez um apelo para que toda a sociedade civil, a Igreja e as diversas tradições religiosas, o mundo da cultura, da escola, do voluntariado, do espetáculo, da economia e das comunicações sociais sugiram e apoiem medidas para que seja possível acompanhar e cuidar dos idosos em contextos familiares, em suas próprias casas e, em todo caso, em ambientes domésticos que mais se assemelham a uma casa do que a um hospital. “Esta é uma mudança cultural a ser implementada”, destacou.
Até o momento, o documento ainda não foi traduzido para o português. No entanto, está disponível em italiano, espanhol, inglês e francês.
Com informações de Vatican News