As mães não só exercem o papel natural da maternidade, como são mestras, porque ensinam os caminhos da vida aos filhos. A Igreja, além da maternidade exerce o papel de Mestra porque procura clarear os caminhos da vida dos seus filhos. No ano de 1964, juntamente com os demais Documentos do Concílio Vaticano II, a humanidade foi presenteada com a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Alegrias e Esperanças). Neste momento de reflexão “imposto” ao ser humano, não por Deus, mas pelas circunstâncias que a própria humanidade criou, os números 37 e 38 do referido documentado impressiona pela lucidez e atualização.
Baseado na longa experiência, diz o Concílio: “A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso humano, que tão grande bem para o homem, traz consigo também uma grande tentação: perturbada a ordem de valores e misturado o bem com o mal, os homens e os grupos consideram apenas o que é seu, esquecendo dos outros. Deixa assim o mundo de ser um lugar de verdadeira fraternidade”, para se tornar ameaça de destruição do próprio gênero humano.
Não se combate o mal somente com armas humanas, desde do princípios somos alertados pela Palavra do Senhor. O combate ao mal se faz também no âmbito da espiritualidade, e durará até o final dos tempos. E quem quiser ser fiel ao bem, deve imprimir grandes esforços e contar com a ajuda da graça de Deus, para além do próprio progresso. “Por isso, a Igreja de Cristo, confiando no desígnio do Criador, ao mesmo tempo que reconhece que o progresso humano pode servir para a verdadeira felicidade dos homens, não pode deixar de repetir aquela palavra do Apóstolo: ‘não vos conformeis com este mundo’ (Rm 12, 2), isto é, com aquele espírito de vaidade e malícia que transforma a atividade humana, destinada ao serviço de Deus e do homem…”, em instrumento de autossuficiência.
E continua o texto: “se alguém quer saber de que maneira se pode superar esta situação miserável, os cristãos professam que todas as atividades humanas, constantemente ameaçadas pela soberba e amor próprio desordenado, devem ser purificadas e levadas à perfeição pela cruz e ressurreição de Cristo. Porque, remido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar até as coisas criadas por Deus. Pois recebeu-as de Deus e considera-as e respeita-as como vindas da mão do Senhor. Dando por elas graças ao benfeitor e usando e aproveitando as criaturas em (espírito de) pobreza. (…). ‘Todas as coisas são vossas; mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus’ (1 Cor 3, 22-23). O Verbo de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas, fazendo-se homem e vivendo na terra dos homens…”. Somos recordados por Ele que “Deus é amor” (1 Jo 4, 8). É o amor a regra que deveria mover o mundo e não outros interesses.
É necessário olhar o mundo e as pessoas de modo diferente, quando somos impulsionados a viver na busca de grandeza e status, pois o “amor não se deve exercitar apenas nas coisas grandes, mas, antes de mais, nas circunstâncias ordinárias da vida”. Lembra-nos que a morte é para todos, assim como exemplo de Cristo nos ensina que “devemos levar a cruz que a carne e o mundo fazem pesar sobre os ombros daqueles que buscam a paz e a justiça”.
O fato é que Cristo, Senhor do mundo e Redentor nosso, foi trocado por outros senhores e nos proclamamos auto redentores. O Senhor é invocado para suprir as nossas necessidades, muitas vezes nada cristãs. Poucos e poucas vezes o procuramos para dizer: Eis-me aqui, faça-se a Tua vontade (cf. Lc 1, 38). Ao Senhor foi dado “todo o poder no céu e na terra, atua já pela força do Espírito Santo nos corações dos homens; não suscita neles apenas o desejo da vida futura, mas, por isso mesmo, anima, purifica e fortalece também aquelas generosas aspirações que levam a humanidade a tentar tornar a vida mais humana e a submeter para esse fim toda a terra”.
O Espírito age no mundo e liberta a todos, para que, “deixando o amor próprio e empregando em favor da vida humana todas as energias terrenas, se lancem para o futuro, em que a humanidade se tornará oblação agradável a Deus”.
No momento somos questionados como um vírus é capaz de parar o mundo e homens que se acham sabedores de tudo, capazes de viajar pela via láctea, que guerreiam por pedaços de terras, esquecendo-se dos semelhantes? Mas agora parecemos impotentes. Mais forte que o medo e a morte deve ser a certeza que somos olhados amorosamente por Deus, especialmente nestes dias. Por isso, é oportuno rever a vida e o que dela fazemos. Quais valores a sustenta?
É tempo de mudança. Como disse o Papa Francisco, repetindo o adágio popular: “Deus perdoa sempre, os homens às vezes, a natureza nunca”.
Pe. Crispim Guimarães