O dia 18 de maio é lembrado no Brasil como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Nesta data, é alarmante recordar os levantamentos que apontam a porcentagem de 90% dos casos de violência sexual e outros tipos de violência contra crianças e adolescentes ocorridos no ambiente familiar.
A família tem papel importante para superar essa chaga social, apontada pelo Papa Francisco na exortação apostólica Amoris Laetitia como “uma das realidades mais escandalosas e perversas da sociedade atual”.
“O abuso sexual das crianças torna-se ainda mais escandaloso, quando se verifica em ambientes onde deveriam ser protegidas, particularmente nas famílias e nas comunidades e instituições cristãs”, afirma o Papa.
A atuação familiar deve favorecer às crianças ambientes seguros para crescerem e se desenvolverem. Já as famílias chagadas por esse tipo de trauma devem ser acolhidas e orientadas para superar os traumas.
Ainda na Amoris Laetitia, o Papa Francisco fala da “família alargada”, que pode “ajudar a compensar as fragilidades dos pais, ou a descobrir e denunciar a tempo possíveis situações de violência ou mesmo de abuso sofridas pelas crianças, dando-lhes um amor sadio e um sustentáculo familiar, quando os seus pais não o podem assegurar”.
Em janeiro deste ano, o Portal Vida e Família abordou o tema da proteção às crianças e adolescentes apontando formas para identificar e prevenir abusos. As dicas são reproduzidas abaixo:
Como agir
O trabalho de conscientização das famílias tem sido a principal ferramenta para enfrentar a realidade dos abusos. Em campanha realizada anos atrás, o Ministério dos Direitos Humanos e o Ministério da Justiça indicaram atitudes simples que podem ajudar a proteger as crianças da violência sexual: Os pais devem ouvir com atenção o que seus filhos têm a dizer e orientá-los. Outro ponto importante ressaltado é a necessidade de saber com quem o filho está nos momentos de lazer e conhecer seus círculos de amizade também.
A assistente social Cristina Caetana Nascimento de Araújo, no terceiro mandato de Conselheira Tutelar em Ceilândia (DF), reforça a importância de a família dar educação sexual às crianças como uma base para proteger do abuso sexual.
“A prevenção do abuso vem acompanhada de educação sexual. Quando os pais dão essa orientação para seus filhos, fica mais fácil. Claro, é preciso acompanhar, conhecer seu filho. Geralmente a gente deixa essa orientação em educação social para a escola, para o vizinho, para os amigos, e essa orientação tem que ser dada pela família, porque nem tudo que a escola coloca, o que a sociedade coloca é aquilo que a gente acredita”, ensina.
A educação sexual para as crianças pode ajudar para que a criança não fique confusa quando acha que está recebendo um carinho.
“Eu sempre falo sobre esses ‘carinhos’ até na família mesmo: pai estar beijando na boca dos filhos, tomando banho junto… as crianças começam a acreditar que tudo isso é muito normal, aí quando ela está sendo abusada ela não entende que aquilo é abuso. Por isso a importância de educação sexual, porque os pais vão começar a explicar para os filhos o quê que pode e o que não pode, que tipos de carinho realmente é carinho e o que é abuso”, salienta.
Cristina ainda reforça que a criança muda o comportamento quando há algo que a incomoda. Isso pode ajudar a identificar um possível abuso. Após confirmada a violência contra a criança, a orientação é procurar a delegacia, de preferência a especializada na Proteção à Criança e ao Adolescente. Nesse contexto, o Conselho Tutelar age no encaminhamento à rede de proteção, como os Centros de Referência e Assistência Social (CRAS), hospitais, psicólogos, entre outros serviços.
Algumas dicas importantes
Para prevenir casos de violência sexual infantojuvenil:
Fonte: Senado Federal e atualizado pelo MPSC em maio de 2014
- cuide de seu filho: dê a ele toda a atenção que puder;
- saiba sempre onde eles estão, com quem estão e o que estão fazendo;
- ensine-os a não aceitar convites, dinheiro, comida e favores de estranhos, especialmente em troca de carinho;
- sempre os acompanhe em consultas médicas;
- converse com seus filhos: crie um ambiente familiar tranquilo;
- conheça seus amigos, principalmente os mais velhos;
- supervisione o uso da internet (Facebook, Twitter, chats, etc.); e
- oriente seus filhos a não responderem e-mails de desconhecidos, muito menos enviarem fotos ou fornecerem dados (nome, idade, telefone, endereço, etc.), ou, ainda, informarem suas senhas da internet a outras pessoas, por mais amigas que sejam.
Quando é descoberto um caso de violência sexual contra menores
Fonte: Fórum Catarinense Pelo Fim da Violência e da Exploração Sexual Infantojuvenil
- não critique nem duvide de que ela/ele esteja faltando com a verdade;
- incentive a criança e/ou o adolescente a falar sobre o ocorrido, mas não o obrigue;
- fale sempre em ambiente isolado para que a conversa não sofra interrupções nem seja constrangedora;
- evite tratar do assunto com aqueles que não poderão ajudar;
- denuncie e procure ajuda de um profissional;
- converse de um jeito simples e claro para que a criança e/ou o adolescente entendam o que você está querendo dizer;
- não os trate com piedade e sim com compreensão;
- nunca desconsidere os sentimentos da criança e/ou do adolescente;
- reconheça que se trata de uma situação difícil; e
- esclareça à criança e/ou adolescente que a culpa não é dela/dele;
Foto de capa: Unsplash / Markus Spiske