O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano apresentou na quinta-feira, 18, o Ano Família Amoris Laetitia, na Sala de Imprensa da Santa Sé. O prefeito do Dicastério, cardeal Kevin Farrell, destacou que é preciso mudar a mentalidade da ação pastoral, pensar nas famílias não como “objeto”, mas como “sujeito”.
Também participaram da entrevista coletiva a subsecretária do Dicastério, Gabriella Gambino, e um casal italiano que partilhou um testemunho.
Pensar nas famílias não como “objeto”, mas como “sujeito” da pastoral
As famílias têm necessidade de cuidado pastoral, de dedicação, mediante um estilo de maior colaboração entre eles e os pastores. É necessário investir na formação dos formadores e, sobretudo, implementar uma mudança de mentalidade: pensá-las não como ‘objeto’, mas como ‘sujeito’ da pastoral ordinária.
Em síntese, este foi o convite feito pelo cardeal Kevin Farrell. O pressuposto, especificado no início da sua participação, é que a pandemia não deve nos paralisar: precisamente neste tempo de perplexidade – sublinha – é muito oportuno dedicar um ano inteiro à família cristã, para apresentá-la verdadeiramente como uma “boa notícia”.
“A família permanece para sempre ‘cusódia’ das nossas relações mais autênticas e originárias”, afirma o purpurado, que sugere retomar o texto do Papa Amoris Laetitia, fruto de um longo caminho sinodal, não somente nos contextos eclesiais, mas no âmbito das próprias famílias. Farrell reitera a riqueza deste documento, que também contém percursos práticos e cita também a Encíclica Fratelli tutti, um texto muito importante para fazer crescer nas famílias o sentido de responsabilidade à solidariedade em relação àqueles que, por exemplo, vive no mesmo condomínio ou bairro.
Acompanhar as famílias em crise, pobres, desagregadas
O Ano especial que está para começar, deve ser um tempo para que as famílias não se sintam sozinhas perante as dificuldades. Nas palavras do Cardeal Farrell existe um convite “ao acompanhamento dos casais e das famílias em crise, ao apoio aos que ficaram sós, às famílias pobres, desagregadas”.
Embora muitas experiências já tenham se revelado muito frutíferas e, por isso, não devem ser desperdiçadas, o prefeito lamenta que “por diversos motivos ainda estamos numa fase inicial”. Uma passagem central é a ênfase ao protagonismo a que são chamadas as famílias nas paróquias e nas dioceses. É preciso “dar maior espaço às famílias. A própria vida delas é uma mensagem de esperança para o mundo inteiro, sobretudo para os jovens”, continua Farrell.
Um aspecto particular, com o qual concluiu o seu pronunciamento, diz respeito à reciprocidade da fecundidade espiritual entre famílias e pastores, na medida em que realmente se colabora: há muito para “dar” pelas famílias, mas mais ainda a receber delas. A Igreja é chamada a mostrar-se às famílias na dupla atitude da paternidade e da maternidade: acolhedora e forte, mas também capaz de escuta e corajosa.
Gambino: estamos passando por uma emergência vocacional ao matrimônio
Gabriella Gambino, subsecretária do Dicastério, também está convencida de que é “hora de agir”, renovando “modalidades, estratégias e quem sabe mesmo algumas finalidades de planejamento pastoral”. Chega a falar de tempo de “conversão pastoral”, na consciência de que linguagens, horários, estilos eclesiais talvez não são mais adequados à vida concreta das famílias.
À luz da Amoris Laetitia, é preciso passar de uma pastoral dos fracassos a uma que saiba “revigorar a beleza do Sacramento do Matrimônio e das famílias cristãs”, tornando-a perceptível aos olhos dos jovens e atraente.
“Existe um grande desejo de família, mas muito medo diante da escolha do matrimônio”, observa Gambino. É destacado o critério que deveria orientar as atividades neste âmbito: tornar transversais os projetos pastorais, segundo uma visão integral do planejamento. Ela dá o exemplo da catequese para crianças, que poderia ser formatada desde o início com uma formação remota à vocação esponsal, também para evitar os frequentes abandonos depois do Sacramento da Primeira Comunhão.
Subsídios e vídeos para colocar a Exortação em prática
A subsecretária anuncia a proposta do órgão vaticano de doze possíveis caminhos, para que cada realidade eclesial seja exortada a tomar a iniciativa. Em particular, dez vídeos sobre a Exortação serão postados mensalmente no site do Dicastério Família, Leigos e Vida, com a participação do Papa e alguns testemunhos, e pouco a pouco outras pequenas ferramentas serão disponibilizadas on-line, mas não só.
São citados dois livrinhos, ambos publicados pela Editora Vaticana: “Juntos é bonito” – com prefácio do cardeal Farrell – e “O Papa fala aos pequenos”. Ademais, estão se movimentando associações e movimentos, instituições acadêmicas católicas e pontifícias, para promover reflexões em diálogo com a pastoral.
Ao amor familiar, será dedicado na sexta-feira, 19, um webinar no Pontifício Instituto de Estudos do Matrimônio e da Família “João Paulo II”, organizado pelo Vicariato e pelo Dicastério. Outro encontro on-line será o fórum que acontecerá de 9 a 13 de junho com as Conferências Epicopais de todo o mundo e suas pastorais familiares. “Tratar-se-á de um momento importante de reflexão para entender até onde chegamos na aplicação da Exortação Apostólica”, anuncia Gambino.
Casal, a construção do ‘nós’ junto às outras famílias
Valentina e Leonardo Nepi, naturais da cidade italiana de Arezzo, uma filha de cinco anos e na bagagem um compromisso na animação pós-Crisma na paróquia – ele funcionário do Dicastério – falam dos desafios do amor conjugal.
Conscientes da importância de palavras e gestos aparentemente simples para expressar respeito, paciência, confiança e perdão recíproco a cada dia, como muitas vezes convidou a fazer o Papa Francisco, fazem votos que este Ano especial seja antes de mais nada um tempo propício para cultivar boas relações conjugais e familiares. “Esperamos também – dizem – que a família possa ser mais valorizada na sociedade: promover a dimensão social da família, a sua capacidade de educar os filhos, de animar lugares e as comunidades com valores positivos e geradores, cultivando o diálogo entre as gerações”.
O período de distanciamento forçado que estamos vivendo devido à emergência sanitária pode ser vivido recorrendo à criatividade também graças à tecnologia que ajuda a evitar o isolamento, a partilhar as ressonâncias sobre a Palavra de Deus: este é o seu conselho. Experimentar a dimensão de igreja doméstica e favorecer a ligação entre as gerações, entre idosos e avós, é considerado fundamental. Porque, recordam, “a força da família não se esgota na intimidade das nossas casas”.
O Matrimônio como Sacramento é diferente das uniões civis
Respondendo a uma pergunta de um jornalista sobre as reações da recente declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, com a proibição de bênçãos para as uniões do mesmo sexo, o cardeal Farrell precisou com firmeza que “a vida pastoral da Igreja é aberta a todas as pessoas. É importante que as pessoas compreendam que abrimos os braços para acolher a todos, nos diversos estados de vida e em qualquer condição em que se encontrem”.
“É preciso fazer uma distinção: a Igreja fala do Matrimônio como Sacramento, não como união civil. Amoris Laetitia fala disso”, precisou ainda, acrescentando que “aqueles que não podem se beneficiar da plena participação na Igreja, não significa que não possam ser acompanhados”.
Recorda, portanto, a distinção entre matrimônio sacramental e união civil. “Durante este Ano especial, encontraremos muitas dioceses de todo o mundo que lidam com casais homossexuais. Há situações em que existem divorciados e recasados, a Igreja continua a acompanhá-los”.
Com informações de Antonella Palermo – Vatican News