O arcebispo de São Paulo (SP) e presidente do regional Sul 1 da CNBB, cardeal Odilo Pedro Scherer, comenta os frutos da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, realizado no Vaticano, no período de 5 a 19 de outubro. De acordo com dom Odilo, “o Sínodo dedicou especial atenção às famílias que vivem em situações de conflito e de perseguição”. Confira abaixo, a íntegra do artigo:
Frutos do Sínodo
No domingo, 19 de outubro, o Papa Francisco encerrou a 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos com uma missa celebrada na Praça de São Pedro, debaixo de um sol esplêndido. Na mesma celebração, também beatificou seu predecessor, Paulo VI, que instituiu o Sínodo em 1965, como um dos frutos do Concílio Vaticano II.
Foram duas semanas de reflexões, com a participação de 191 “padres sinodais”, além de observadores, peritos e outros convidados. Após uma semana de intervenções individuais, os participantes reuniram-se em grupos para discutir uma proposta do texto final. Seguindo o tema da assembleia – “os desafios pastorais da família no contexto da evangelização” -, os participantes do Sínodo trataram de questões relativas ao ensinamento da Igreja sobre matrimônio e família, da pastoral familiar na preparação ao casamento e no acompanhamento da vida dos casais e famílias, dos casos pastorais mais complicados, como a separação e o divórcio, as novas uniões civis após o divórcio e o acompanhamento pastoral de casais “recasados” e da sua participação na Igreja.
Mas também se tratou das uniões livres, sem formalização alguma, do desinteresse crescente em relação à família e o casamento, do serviço pastoral nos tribunais eclesiásticos, sobretudo dos pedidos de reconhecimento de nulidade matrimonial; tratou-se do acesso à confissão e à comunhão por parte daqueles que após um divórcio ou separação vivem numa nova união. Não deixou de ser tratado o desfio pastoral representado pelas uniões civis de pessoas do mesmo sexo e da sua pretensão de serem reconhecidos como “família” e de terem reconhecida a sua união como um “casamento”…
Olhou-se também, com particular atenção, a questão da transmissão da vida e sua acolhida pelo casal, no seio de uma família constituída; e não podia faltar a educação, em todos os sentidos – humano, religioso e cívico -, e do papel inalienável dos pais na educação dos filhos.
A pauta de assuntos foi muito ampla. E os resultados? Antes de tudo, deve-se considerar como fruto apreciável o próprio fato de a Igreja fazer uma nova reflexão sobre casamento e família. Era muito necessário, pois no contexto cultural contemporâneo, a família e o casamento são cada vez mais relegados à vida privada, onde o Estado não deve se intrometer. Grave engano, pois a família é um bem para a pessoa e a sociedade inteira. E onde ela é desamparada e até desmantelada, ela faz muita falta e o Estado se assume muitos encargos a mais!
O Sínodo também produziu uma bela mensagem, confortadora e estimulante, já foi divulgada , que vale a pena ler e meditar. E produziu um relatório final, com os temas de consenso já trabalhados. Este Relatório (“Relatio Synodi”) ainda não é um “documento” conclusivo e o papa Francisco determinou que ele seja, agora, enviado às Conferências Episcopais e submetido a um novo giro de consultas e contribuições; no ano que vem, 2015, na assembleia ordinária do Sínodo, o assunto voltará a ser discutido e analisado.
O Sínodo dedicou especial atenção às famílias que vivem em situações de conflito e de perseguição.
O papa Francisco inovou no método do Sínodo e quer que a Igreja toda faça um “caminho sinodal”, ou seja, de busca de caminhos comuns para testemunhar as riquezas do Evangelho nas situações nem sempre fáceis do casamento e da família. O processo pode ser mais longo e demorado; mas espera-se que o consenso seja mais compartilhado entre todos.
Por Assessoria de Imprensa CNPF.