Mundo afora, no dia 13 de dezembro, estaremos abrindo a Porta Santa de nossas catedrais. Este gesto é resposta ao convite realizado pelo Papa Francisco para celebrar o Jubileu da Misericórdia.
O Jubileu da Misericórdia se encontra inserido no contexto das celebrações dos 50 anos de encerramento do Concílio Vaticano II. É salutar resgatar esse evento da história recente da Igreja. Com ele foi inaugurado um percurso novo. De fato, a Igreja, através do Concílio, ‘abriu as janelas’ para permitir a entrada de ‘ar fresco’. Ela sentia a necessidade de continuar anunciando o Evangelho de modo mais compreensível, de maneira nova. Foi assim inaugurada uma nova etapa na obra da evangelização, sob o desejo de poder servir ao ser humano em todas as circunstâncias de sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades.
Abrir a Porta Santa e atravessá-la significa nos deixarmos abraçar pela misericórdia de Deus e nos comprometermos a sermos misericordiosos com os outros, como o Pai é conosco.
Realizar o rito, participar do rito, ultrapassar o portal de nossas catedrais, cumprir as orientações da Igreja para obtenção de indulgência é algo relativamente simples. Desafiador é realizar o itinerário pessoal para fazer a experiência profunda e transformadora da misericórdia do Senhor, que espera e acolhe quem a Ele recorre suplicando misericórdia.
A celebração do Jubileu da Misericórdia expressa oportunidade ímpar para a Igreja abrir suas portas e se pôr em atitude de saída, indo ao encontro de todos os que se sabem a caminho. Isso implica rever estruturas e práticas, tradicionalismos e dogmatismos.
Nosso Senhor jamais força a porta. Ele está à porta e bate (Ap 3,20). Onde há disponibilidade, acolhida e abertura, Ele entra e participa da intimidade de quem O acolhe.
Constatamos que, em muitas situações, há portas blindadas. Isto não pode acontecer na vida dos membros das comunidades de fé. Os seguidores de Jesus são pessoas com ‘as portas do coração abertas’. O coração expressa a intimidade do ser humano. O cristão cultiva a abertura do coração; cultiva a acolhida do diferente; cultiva a sensibilidade necessária para acolher quem talvez já não mais tenha coragem e forças para ‘bater’ e solicitar hospitalidade, por ter perdido a confiança.
Há os que bem sabem o que significa encontrar uma porta aberta ou fechada quando, por exemplo, sentem necessidade de cuidados especializados de saúde ou quando se sentem impelidos a buscar uma escola com qualidade para seus filhos, um emprego digno, um ouvido acolhedor e disposto a ‘perder tempo’ para ouvir, um abrigo seguro diante do perigo iminente, um serviço qualificado e ágil…
Inauguraremos o Ano jubilar da Misericórdia dentro do Tempo do Advento. Tempo este marcado pela esperança. Ora, a esperança nos permite sonhar, projetar, planejar. Isto nos permite viver! Sem a capacidade de planejar, projetar, sonhar, o ser humano vegeta.
Sonhamos com sinais de misericórdia atuantes em distintas situações de nossa vida social e eclesial: alimentar os famintos, dar de beber aos que têm sede, vestir os despidos, abrigar os sem abrigo, visitar os doentes, visitar os cativos, sepultar os mortos, instruir os ignorantes, aconselhar os duvidosos, advertir os pecadores, suportar os erros pacientemente, perdoar as ofensas de bom grado, confortar os aflitos, rezar pelos vivos e pelos mortos.
Encontramos pessoas que, discreta e alegremente, se empenham para mostrar misericórdia em favor de quem de misericórdia necessita. São pessoas que sonham o mesmo sonho e, por isso, tal sonho pode se tornar realidade!
Celebrar o Jubileu da Misericórdia significa deixar-se surpreender pelo Deus-Amor. Ele quer caminhar conosco, quer constituir morada entre os seus. Ele é o Deus-Conosco, o Emanuel, Jesus! Ele, a Misericórdia do Pai, armou tenda entre nós e se fez Natal! Ele, a porta!
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)