Cerca de 130 mil pessoas participaram, neste domingo, 24, da missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida por ocasião da Peregrinação Nacional em Favor da Família, em Aparecida (SP). O evento foi organizado pela CNBB através Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família e contou com a participação de 26 bispos e mais de cem padres.
O presidente da CNBB e arcebispo de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, destacou a família como o lugar de cultivar valores. “A família é o lugar onde se aprendem as virtudes, os valores, os critérios e as atitudes que são necessárias para uma autêntica convivência social”.
Dom Geraldo destacou também a necessidade de leis que protejam a família, fundada no matrimônio. “As medidas legislativas e governamentais não devem descaracterizar a família fundada no matrimônio, identificando-a com qualquer tipo de convivência. Isto significaria desvalorizar a família, não reconhecendo os valores que ela gera e transmite”, afirmou o arcebispo.
O presidente da CNBB lembrou, também, a responsabilidade dos Meios de Comunicação Social na educação das famílias. “Especial responsabilidade têm os Meios de Comunicação Social que devem propiciar uma programação mais adequada ao crescimento e ao desenvolvimento das novas gerações, estimulando a constituição de um projeto de vida digna e positiva, reduzindo a onda de banalidades e de vulgaridades, bem como de agressividade e violência, promovendo “uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade”, disse.
Leia, abaixo, a integra da homilia do presidente da CNBB
PEREGRINAÇÃO NACIONAL EM FAVOR DAS FAMÍLIAS APARECIDA, 24 DE MAIO DE 2009*
Encontramo-nos nesta Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no dia em que a Igreja celebra a Ascensão do Senhor, o dia de oração pelos católicos da China e o Dia Mundial das Comunicações, cujo tema é: “Novas Tecnologias, novas relações”. Aqui viemos, para participar da “Peregrinação Nacional em Favor da Família”, que tem como tema: Familia Discípula Missionária a Serviço da Vida. Viemos para pedir à Mãe de Deus e nossa Mãe que estenda seu manto sobre as famílias brasileiras, cada vez mais fragilizadas pelas grandes dificuldades que vêm enfrentando em nossos dias.
A Ascensão do Senhor é a festa da exaltação da nossa humanidade que, assumida por Jesus Cristo, é conduzida por ele à plenitude da realização, da felicidade. Jesus “subiu ao céu e está sentado à direita do Pai, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos”, proclamamos em nossa profissão de fé. Como cabeça do Corpo do qual nós somos membros, Cristo Jesus abriu o caminho para que ocupemos o lugar que ele preparou para nós na casa do Pai.
Nesta Peregrinação Nacional em favor da Família, recordamos as palavras do Santo Padre, o Papa Bento XVI, quando esteve em Aparecida, no mês de maio de 2007: “A família, patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino americanos. Ela foi e é escola de fé, espaço de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e é acolhida generosa e responsavelmente… A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação de seus filhos” (DAp 114).
Os bispos da América Latina e do Caribe, reunidos aqui em Aparecida, elevaram um canto de agradecimento e de louvor a Deus pela beleza do matrimônio e da família. Eles afirmaram: “O amor humano encontra sua plenitude quando participa do amor divino. /…/ O amor conjugal é assumido no Sacramento do Matrimônio para significar o amor de Cristo e da Igreja” (DAp 117).
Disse o Papa Paulo VI, na Encíclica Humanae vitae: “o matrimônio não é fruto do acaso, ou produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos (um homem e uma mulher) tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas” (HV, 8).
O VI Encontro Mundial das Famílias, realizado na Cidade do México, em janeiro deste ano, convidou os católicos a tomar consciência dos bens que são transmitidos na família e que são necessários para toda a sociedade: Na família, forma-se a confiança, tão decisiva nas relações interpessoais, comunitárias e sociais. Na família, florescem práticas de cooperação e de serviço mútuo em busca do bem comum, dando atenção aos mais frágeis e vulneráveis. Essas práticas familiares são fundamentais para a convivência social desenrolar-se na paz. Por isso mesmo, a família é insubstituível e não existe sem o matrimônio entre um homem e uma mulher. Portanto, não deve ser confundida com outras formas de convivência.
A família é o lugar no qual se vivem relacionamentos gratuitos e partilha de dons, educando dessa maneira para relações de reciprocidade. Ela torna-se escola de fraternidade, educa para a generosidade, estimula a buscar um projeto de vida junto com outras pessoas, proporciona um treinamento das virtudes necessárias para realizar os objetivos da vida. Ela é o lugar onde se aprendem as virtudes, os valores, os critérios e as atitudes que são necessárias para uma autêntica convivência social.
Por isso, as medidas legislativas e governamentais não devem descaracterizar a família fundada no matrimônio, identificando-a com qualquer tipo de convivência. Isto significaria desvalorizar a família, não reconhecendo os valores que ela gera e transmite.
Para fortalecer a família e defender a vida desde seu primeiro instante até o seu término natural, é necessário que se promova “uma pastoral da família intensa e vigorosa para proclamar o evangelho da família, promover a cultura da vida e trabalhar para que os direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados” (DAp 435).
É importante multiplicar Associações Familiares que se tornem capazes de dialogar e interagir com as diversas instâncias do poder público. É preciso que o poder público se empenhe decididamente na promoção de medidas que respeitem, valorizem e protejam as famílias. Faz-se necessária uma política que priorize o acesso à casa própria; facilite o emprego de quem tem a responsabilidade de sustentar sua família e garanta os meios necessários à saúde e educação de todos.
Especial responsabilidade têm os Meios de Comunicação Social que devem propiciar uma programação mais adequada ao crescimento e ao desenvolvimento das novas gerações, estimulando a constituição de um projeto de vida digna e positiva, reduzindo a onda de banalidades e de vulgaridades, bem como de agressividade e violência, promovendo “uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade.
Com emoção, recordamos a prece que fez o Papa Bento XVI em sua inesquecível visita a Aparecida: “Ficai, Senhor, em nossas famílias, iluminai-as em suas dúvidas, sustentai-as em suas dificuldades, consolai-as nas adversidades, reconfortai-as em seus sofrimentos e na fadiga de cada dia, quando ao redor delas se acumulam sombras que ameaçam sua unidade e sua natureza. Vós que sois a Vida, permanecei em nossos lares, para que continuem sendo ninhos onde nasça a vida humana abundante e onde, generosamente, se acolha, se ame, se respeite a vida desde a sua concepção até o seu declínio natural”.
Nesta Romaria Nacional em favor da Família, suplicamos: Senhora Aparecida, nossa mãe querida, acompanhai nossas famílias em sua peregrinação terrena, ensinai-nos a viver na alegria, na união e na paz a exemplo da Sagrada Família de Nazaré. Dai-nos vossa bênção materna, iluminai a todos os que têm a responsabilidade de legislar e governar para que respeitem e amem, valorizem e protejam a família e a livrem dos ataques e ameaças da hora apresente. Virgem Mãe Aparecida, abençoai nossas famílias. Amém!
* Homilia de D. Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana e Presidente da CNBB, por ocasião da Peregrinação Nacional em favor da Família, ao Santuário de Aparecida, aos 24 de maio de 2009.