A pandemia do novo coronavírus tem mudado a rotina das pessoas em todo mundo. As famílias precisaram se afastar e em alguns casos a distância é ainda maior, como entre os familiares dos profissionais de saúde. Alguns deles se afastaram dos filhos, pais e companheiros por estarem na linha de frente ao combate ao Covid-19 e terem pessoas de grupo de risco na família. Santa Catarina já tem 2,6 mil casos confirmados da doença, incluindo 55 mortes.
“A gente tem buscado a proteção nossa e a proteção para os nossos pacientes. Sem heroísmo, mas cuidando de nós para cuidar do próximo”, diz a coordenadora de enfermagem Janaína Heinz.
Ela é responsável pela equipe no hospital Santa Isabel, em Blumenau, no Vale do Itajaí, nu unidade de terapia intensiva, está na linha de frente e tem contato diário com pacientes com a doença. O filho dela de 1 ano e nove meses está com a avó em Ituporanga, cidade a quase 200 quilômetros de distância. A última visita foi na Páscoa e com muito cuidado.
“A gente partiu da ideia de protegê-los. De proteger para eu contaminada não contaminar ele, sendo nosso bem mais precioso que é o nosso filho. A gente faz chamada de vídeo, é ‘mamãe, papai’… e assim vai levando”, detalha.
Mesma cidade, casas diferentes
Profissionais que não podem parar durante pandemia mudam rotina para proteger familiares
A enfermeira Helen Furlan tem dois filhos de 3 e 15 anos. O mais velho tem asma e está no grupo de risco. Para proteger a família, há cerca de um mês ela está morando com uma amiga que também trabalha na saúde.
“Já faz cerca de um mês que eu saí de casa, fomos morar eu e uma amiga aqui do hospital também, uma outra enfermeira, e eu fiz esta mudança na minha rotina justamente para tentar preservar meus filhos, minha família”, diz Helen.
Ela tem contado com o apoio do marido nesse período de saudades longe do companheiro e dos filhos. “Como mulher, como mãe, como profissional, eu admiro ela em todos os quesitos – não é porque ela é minha mulher, é porque ela é especial mesmo. No que ela precisar, eu apoio”, afirma Alysson Rangel, marido da enfermeira.
A família mora em Joinville, no Norte catarinense, mas agora em casas e bairros diferentes. A enfermeira atende na maternidade do hospital Dona Helena, no mesmo município. Mas se houver aumento de casos de coronavírus na cidade, ela vai ser remanejada para ajudar a combater a Covid-19.
“O pequeno chama, quer a mãe dormindo com ele, que tava acostumado a dormir com a mãe. Domingo eu tava descendo a escada do prédio, ele assim: ‘ô pai, eu tô com uma saudade da minha mãe'”, detalha o pai sobre como tem lidado com a situação.
Namoro à distância
A jornalista Gabriela Dias namora há três anos Bernado Tramontini, que é médico. Ela está há um mês isolada na casa da mãe em Florianópolis, pois já teve tuberculose e é do grupo de risco. Há pelo menos um mês o namoro é à distância.
“Ele atende das 8h às 12h no posto de saúde e eu já estava com medo, ele já estava atendendo algumas pessoas com síndrome gripal, que daí a gente não sabe dizer se é ou não Covid e fiquei com medo de me contaminar”, diz Gabriela.
“Acho que foi uma decisão correta sim, porque não dá para brincar, é melhor a gente pecar pelo excesso”, disse o médico. O casal planeja um encontro em junho, mas sabe que a pandemia pode nem ter acabado ainda.
Cuidado com saúde mental
Por todo o estado, centenas de médicos e enfermeiras têm histórias parecidas e alguns estão hospedados em 16 hotéis geridos pela Defesa Civil para que eles protejam suas famílias. Enquanto isso, eles também lidam com o medo, como explica o médico André Manoel, que trabalha na capital.
“Somos treinados para ajudar pessoas a serem curadas, mas não para lidar com uma situação como essa, em que o medo, a insegurança e tudo que acontece na nossa vida também é colocado em jogo. A gente não sabe se está indo embora e está levando o vírus conosco e isso tudo afeta a saúde mental de muitos profissionais”, explica.
Enquanto isso, eles tentam se proteger e também as pessoas que amam. “Nesse momento a gente vê como faz falta o contato físico”, conta Janaína. “Se acontecesse algo de alguém se contaminar, seria mais complicado que eu sentir saudades”, diz a enfermeira Helen.