Vamos morrer? Claro que sim. Alguém ainda duvida? Infelizmente, muitos vivem como se este processo da vida, a morte, não fosse chegar.
Vamos morrer de coronavírus? Alguns de nós sim! Isto permeou minha cabeça estes dias com uma certa frequência. Pode ser eu, pode ser alguém dos meus. Mas fomos criados para a morte, afinal todos morremos? Não! Fomos criados para a vida!
No Evangelho narrado por João 11, 1-45, é evidenciado que Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. Então, por que morremos? A vida não se resume ao período terreno, esta é uma etapa corpórea, boa, e que nos prepara para algo mais profundo.
João relata alguns fatos bonitos e importantes nesta narração. Jesus tem sentimentos profundos pelo ser humano, por isso, chora com os que choram. Chorou com Marta e Maria ao ver seu amigo Lázaro morto. Antes de traçar outros aspectos do texto, faço a pergunta: “eu choro com os que choram?”. Nestes dias muitos estão chorando porque perdem seus entes, sobretudo, pelo “vírus”. Chorariam se fosse um fato isolado, ou a vida continuaria do mesmo jeito? Quem não chora com os que choram, se alegra com os que riem, não têm os sentimentos de Jesus.
A morte é estar no túmulo como Lázaro, embalsamado ou encaixotados? Não! A morte no sentido de fim, é estar no ódio, nas disputas, na hipocrisia como a fé é vivida, cobertos de máscaras, nas críticas destrutivas, calúnia, no abandono aos fracos etc. Somos chamados a tirar a pedra do túmulo do pecado e dele sairmos para a vida. “Desamarrai-o e deixai-o ir” (Jo 11, 34). Não somos seres para o túmulo, mas para a vida “boa”, “alegre” e “bela”. A completude final veremos face a face em Deus.
João também destaca que Jesus ao saber da morte de Lázaro, embora, chore depois, não se assustou como a maioria de nós reage. Jesus tranquilizou os discípulos: “Essa doença é para a glória de Deus…” (v.4). “Ele está dormindo” (v.11).
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá…” (v.25). “…Crês isto?”(v.26). “Sim, Senhor, eu creio…” (v.27). Quem crer não verá a morte, mas a passagem de um eterno contínuo, “verá a glória de Deus” (v.40).
O evangelista faz questão de trazer à tona o fato percebido pelas pessoas, de como Jesus amava aquela família, que nos representa, pois, a Igreja, composta por todos nós, é a família de Jesus. “Senhor, aquele a quem amas está doente” (v.3). Ora, “Deus é amor” (Jo, 4,8;16), portanto o amor de Deus é eterno e ultrapassa aquela dimensão meramente humana, embora também a contemple. É o amor de quem está junto e sente compaixão. Diz o Papa, “peçamos a graça de chorar” por amor além do sentimentalismo. De chorar pelas “pessoas isoladas, pessoas em quarentena, os anciãos sós, pessoas internadas e as pessoas em terapia, os pais que veem que, como falta o salário, não conseguirão dar de comer aos filhos. Muitas pessoas choram. Também nós, em nosso coração, as acompanhamos. E não nos fará mal chorar um pouco com o pranto do Senhor por todo o seu povo”.
O único modo de vencer a morte é viver por amor, aquele amor que abraça para além dos nossos amigos. Mesmo com a morte física, o amor é mais forte, por isso, disse Jesus: “Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá” (v. 25). O amor nos leva a pensar diferente: “Não vivemos para morrer, vivemos para viver” depois desta vida, isto é, tudo que fazemos aqui, vivos, deveríamos fazê-lo para continuarmos vivos depois da morte física.
Segundo Francisco, “Jesus não pode ver as pessoas e não sentir compaixão. Seus olhos são com o coração; Jesus vê com os olhos, mas vê com o coração e é capaz de chorar”. Hoje, Jesus sente compaixão de todos nós, especialmente, dos que mais estão sofrendo. Crês isto?
Pe. Crispim Guimarães