Com cinquenta e seis anos de sacerdote e quase trinta e sete de Bispo, aprendi que a mãe que faz um aborto não consegue mais olhar nos olhos de seus filhos, porque vê neles o olhar do filho que ela não deixou nascer.
Recordo-me de uma jovem amiga que, quando solteira, fez um aborto. Anos mais tarde nos encontramos em um restaurante. Saudamo-nos:
– Como você está?
– Mal.
– Por quê?
– Aquele problema.
– De novo?
– Sim.
– Como você está com os filhos?
– Mal.
[…]
Só defende o aborto a pessoa que nunca sentiu um filho em seu seio e que, depois, nunca contemplou a beleza de seu olhar, a gratuidade de seu sorriso!
O acontecimento do aborto provocado na vida de uma mulher é uma violência contra o íntimo de sua natureza: a maternidade. As meninas, desde crianças, carregam com carinho suas bonecas, que sempre têm nome!
O aborto é, por definição, a extinção de uma vida humana no estado nascente. Sabemos, pela razão e pela fé, que o suprimir de uma vida humana nunca é justificável.
Tertuliano, escritor não cristão, no século II, escreveu: “É um homicídio antecipado impedir de nascer; pouco importa que se reprima a alma já nascida ou que se faça desaparecer ao nascer. Já é homem aquele que o será.”
O Papa São João Paulo II, em sua carta encíclica O Evangelho da Vida, alerta-nos para a gravidade do ato: “Com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus sucessores, em comunhão com os Bispos, […] declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto o matar deliberado de um ser humano inocente.” (E.V. 62)
A mulher é depositária da vida humana e não sua dona, sua proprietária! A vida humana nascente é confiada aos cuidados e à proteção da mãe, que tem o dever moral de preservá-la, de fazer todo o possível para que a criança se desenvolva e nasça saudável.
Sob o jugo do relativismo moral contemporâneo, a lei humana pode até renunciar à punição, mas não pode declarar honesto aquilo que seria contrário ao direito natural, porque tal oposição basta para fazer que uma lei não seja mais lei.
Dom João Bosco Óliver de Faria
Arcebispo Emérito de Diamantina (MG)