Há 25 anos o saudoso Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, exortou a toda comunidade católica a acolher com caridade solícita os casais divorciados e incentivar a participação dos mesmos na vida da Igreja.
O mesmo Santo Padre disse: “A experiência cotidiana mostra, infelizmente, que quem recorreu ao divórcio tem normalmente em vista a passagem a uma nova união, obviamente não com o rito religioso católico. Pois que se trata de uma “PRAGA” (grifo nosso) que vai, juntamente com as outras, afetando sempre mais largamente mesmo os ambientes católicos, o problema deve ser enfrentado com urgência inadiável” (FC. 84 – 22/11/1981)
Pe. Luciano Scampini da Diocese de Campo Grande nos lembra: “De fato, os casais em segunda união estão dentro da Igreja, são e podem ser ramos verdes, não ramos secos. Eles podem, ainda, receber da Igreja a linfa saudável para sua vida espiritual, podem dar muitos frutos, isto é, fazer o bem seja à Igreja e seja na Igreja. Os casais em segunda união não devem ser considerados unicamente uma “praga” (FC 84), mas uma possível fonte de recursos.” 2005
Nosso querido Papa Bento XVI realmente disse PRAGA, e daí? Somos o que somos: Casais em 2ª União, não há como tampar o sol com a peneira, nem negar essa triste e dura realidade. Bento XVI em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal: “Sacramentum Caritatis” reforçou o que disse João Paulo II, “Por isso, é mais que justificada a atenção pastoral que o Sínodo reservou às dolorosas situações em que se encontram não poucos fiéis que, depois de ter celebrado o sacramento do Matrimônio, se divorciaram e contraíram novas núpcias. Trata-se dum problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que vai progressivamen-te corroendo os próprios ambientes católicos.” (SC 29 – 22/02/07) Precisa-mos entender que se não mudarmos nossa atuação enquanto agentes da Ca-tequese, da preparação para a o Matrimônio e da Pastoral Familiar não co-lheremos bons frutos, não dá para fazer de contas, as famílias estão aí preci-sando de nós.
Em Uberlândia, a acolhida fraterna se deu, de forma pioneira, em 27/09/98, sob a coordenação do Pe. José de Anchieta Araújo Guerra e os agentes da Pastoral Familiar, em nossa Paróquia de São Judas Tadeu, quando da realização do 1º Encontro de Casais em 2ª União “Bom Pastor”, da Diocese de Uberlândia, há quase nove anos e graças à misericórdia do Senhor nosso fazer missionário não parou mais, aliás, já temos muitas Paró-quias com o trabalho em andamento, com casais em 2ª união atuantes e en-gajados na vida da Igreja: Cristo Redentor, N. Sra. das Graças da Medalha Milagrosa, N. Sra. do Caminho, N. Sra. da Abadia do Custódio, Santa Edwi-ges, São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo e São Judas Tadeu.
De acordo com o “Guia de Orientação para os Casos Especiais”, da Comissão Nacional da Pastoral Familiar – CNPF, da CNBB, “os objetivos do trabalho junto aos divorciados e recasados, em todos os seus níveis (nacional, regional, diocesano, paroquial), têm como meta acolher e evangelizar os casais em 2ª união, a fim de que eles não se sintam separados da Igreja. É necessário dar-lhes condições de refletirem sobre a sua situação e sobre o amor misericordioso de Deus, para integrá-los na comunidade paroquial, onde, como batizados, podem crescer na fé e no amor e devem participar da vida e da missão da Igreja.
Nosso compromisso é fazer jus à acolhida fraterna da Igreja exercitando o perdão diário, dando exemplo e testemunho de vida. A alegria de voltar à casa do PAI é indescritível, é sentimento, é emoção, é ímpar. Precisamos, enquanto Igreja, exercitar a comunhão diária em nossos lares, a comunhão com a comunidade e a comunhão eucarística, e nós, Casais em 2ª União, enquanto impedidos que somos de participar da mesa do Senhor, recebendo- O em espécie, seremos obedientes e O receberemos dia a dia em nossos co-rações, através da comunhão espiritual que é importantíssima, que tem um grande valor na teologia, na vida dos santos e na vida do cristão, pode ser realizada a qualquer momento e é “quase sacramento”, é reserva de vida e de amor eucarístico sempre ao alcance da mão para os enamorados de Jesus Hóstia.
Concordamos com Pe. Luciano, quando ele diz que este santo exercí-cio pode fazer-nos viver com Jesus em um abraço de amor, e só depende de nós, que o renovemos freqüentemente e que não o interrompamos quase nunca.
Confiamos na misericórdia divina e acreditamos que nós faremos a di-ferença com a nossa participação e testemunho de vida, como disse muito bem Paulo VI: “Tudo aquilo que é humano nos toca diretamente, uma vez que a mensagem do Evangelho é uma mensagem para a vida humana” Todas as questões humanas têm que ser levadas a sério pelas comunidades eclesiais. Também o Papa João Paulo II nos lembra que “a Igreja foi instituída para a salvação de todos, sobretudo dos batizados”. E afirma: “Um empenho pastoral ainda mais generoso, inteligente e prudente, na linha do exemplo do Bom Pastor, é pedido para aquelas famílias que – muitas vezes, independente da própria vontade ou pressionadas por outras exigências de natureza diversa – se encontram em situações objetivamente difíceis. A esse propósito é necessário voltar especialmente atenção para algumas categorias particulares, mais necessitadas não só de assistência, mas de uma ação sobre as estruturas culturais, econômicas e jurídicas, a fim de se poderem eliminar ao máximo as causas profundas do seu mal-estar”. (Familiaris Consortio, 84)
Precisamos estudar mais, nos prepararmos melhor para sermos agen-tes da Pastoral Familiar prontos para nos colocarmos a serviço com alegria. Pe. Luciano com sua sabedoria disse que a comunidade eclesial precisa se envolver e saber mais sobre os Casais em 2ª União e que aos Casais em 2ª União há necessidade de garra, determinação e conhecimento, acima de tudo seguir firme na caminhada, fortalecer o grupo, buscar as ovelhas perdidas e perseverar, pois “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24,13); “E é pela vossa perseverança que alcançareis a vossa salvação” (Lc 21,19). Nossa situação merece ainda muita discussão, muito estudo, aprofundamento e abertura de coração de toda comunidade eclesial, o que não ocorre ainda. Precisamos do apoio do clero, da comunidade eclesial, que são instrumentos do Senhor para nos ajudar na caminhada; fé e amor não são palpáveis, nós devemos buscar e na busca da superação de tantos males que nos assustam e nos desafiam, a fé e o amor devem se fazer presentes.
Gostaríamos de relembrar as palavras de nosso Bispo Diocesano, Dom José Alberto Moura, por ocasião da comemoração dos quatro anos de cami-nhada do “Bom Pastor” em Uberlândia: “O ideal de família cristã é proposto por Jesus. Os casais em 2ª União o aceitam e procuram viver, em sua reali-dade, no encaminhamento, o mais perto possível, do ideal do amor conjugal. Jesus não despreza ninguém e propõe o desafio do amor crescente. Ele vê a boa vontade e a dinâmica do esforço de cada um. Os Santos Esposos, Maria e José sejam estímulos para os Casais em 2ª União, para sempre procurarem o caminho da doação no amor sem medida. Os filhos usufruam da bondade e do amor generoso dos pais.”
Em nossa Diocese de Uberlândia já foram realizados vários Encontros Paroquiais, de um domingo cada; Momentos de Reflexão Pais e Filhos “Bom Pastor”; Dias de Retiro Espiritual; três Encontros Diocesanos, com início sexta-feira à noite e término domingo à noite, com a missa, envolvendo as Paróquias que vêm realizando o trabalho com os Casais em 2ª União; os ca-sais em 2ª União de Uberlândia têm participado de Congressos da Pastoral Familiar, o 2º Encontro Nacional para Casos e Situações Especiais/ 2002, a Coordenação Diocesana dos Casais em 2ª União, de Jundiaí, SP. já esteve em Uberlândia e nos dias 28, 29 e 30 de janeiro de 2006, o I Retiro Diocesano “Bom Pastor”, com 39 Casais em 2ª União, onde contamos com a presença especial do Pe. Luciano Sacampini, da Diocese de Campo Grande, MS.
Ao longo dos oito anos de caminhada, na Paróquia São Judas Tadeu, nos reunimos a cada quinze dias, sendo uma Reunião Geral com todos os Casais, no Salão Paroquial e reuniões nas casas, nos dividindo em seis sub-grupos, com a seguinte programação:
• 1999 – Ano de preparação para o engajamento dos casais;
• 2000 – Ano Santo – Jubileu do Senhor (estudo e muita atividade)
• 2001 – Sendo Igreja no Novo Milênio – Estudando os Atos dos A-póstolos
• 2002 – Sendo Igreja no Novo Milênio – Continuidade do estudo dos Atos dos Apóstolos – Projeto SINM
• 2003 – a cada mês discutimos e refletimos sobre um tema:
1. Missa parte por parte;
2. Espiritualidade do Casal e do Grupo;
3. Casais em 2ª União e sua verdadeira missão;
4. Auto-estima;
5. Missão, compromisso e responsabilidade dos agentes;
6. Encontro com especialistas em família;
7. Vida a dois – superando desafios;
8. E os filhos, como vão?
9. Transformando nossas casas em pequenas Igrejas Domésti-cas;
10. A importância do diálogo;
11. Entendendo os Setores da Pastoral Familiar;
12. Relacionamento pais e filhos.
• 2004 – Estudamos os 12 passos para o Cristão (Um passo a cada mês, com atividades desenvolvidas em casa e refletidas na Reunião Geral.)
• 2005 e 2006 – Dedicamo-nos ao estudo do Guia de Orientação pa-ra os Casos Especiais e ao estudo do Livro: Conhecer melhor a Bí-blia – Noções Gerais da Bíblia em linguagem popular, do Pe. Luiz Cechinato – atividades realizadas em casa, com discussão e refle-xão na Reunião Geral.
• 2007 – Aprofundamento na reflexão da Exortação Apostólica “Fa-miliaris Consortio”, Papa João Paulo II, novena Jesus “Bom Pas-tor”, nas residências e bimestralmente, reunião com as coordena-ções paroquiais “Bom Pastor” – estudo do Livro – Coordenador de Pastoral – um serviço à comunidade, da Editora Vozes.
Nas reuniões que acontecem nas casas temos seguido as orientações e sugestões tanto da Equipe de Jundiaí, quanto de Porto Alegre, nos adequan-do e enriquecendo com nossa realidade local, também não perdemos de vista a Revista Vida e Família e o rico material do INAPAF.
O objetivo principal do nosso trabalho é o de evangelização e testemu-nho e da certeza de que Jesus veio para todos e não discrimina ninguém, independente da situação em que se encontre. Também não é um incentivo ao crescimento das separações no seio da Igreja e sim a esperança é que di-minua esse número, com a ajuda dos casais, que estavam afastados da Igreja e que agora podem colaborar com os demais, que estão vivendo o matrimônio, através de seu testemunho de vida, para que os mesmos não passem pelos problemas e dores vivenciados pelos Casais em 2ª União, às vezes até por falta de uma maior orientação e acompanhamento.
Em Uberlândia, o acompanhamento aos Casais em 2ª União tem sido realizado de forma madura, serena e sem pressa. O mais importante é que a auto-estima dos casais tem se transformado e a alegria de servir ao próximo nas atividades da Igreja é percebida por todos.
Se formos analisar em cada família encontraremos PRAGA, CHAGA, FERIDA, MARCAS PROFUNDAS, CASAIS EM 2ª UNIÃO …
Não culpemos o tradutor do Vaticano, culpemos a nós mesmos, agentes de pastorais, que às vezes não assumimos nosso verdadeiro papel de “ide e evangelizai a toda criatura…”
Cláudio Rodrigues e Maria do Rosário Silva
Casal Coordenador do Setor Casos Especiais da Pastoral Familiar
Paróquia São Judas Tadeu – Uberlândia – MG.
m.rsilva@yahoo.com.br
PASTORAL FAMILIAR PARÓQUIA SÃO JUDAS TADEU
SETOR CASOS ESPECIAIS – CASAIS EM 2ª UNIÃO “BOM PASTOR”
INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
1. 104 erros que um casal não pode cometer. Ed. Mensagem para todos, 2001.
2. A casa sobre a rocha – A família cristã a caminho do terceiro milênio. Ed. Vozes, 1997.
3. A cruz dos recasados – Vitor Gropelli – Ed. Ave Maria, 2001.
4. A missão da família cristã no mundo de hoje – Exortação Apostólica de João Paulo II. 12ª edição – Ed. Paulinas, 1998.
5. Carta às famílias – João Paulo II – Paulinas . 2ª ed. 1998
6. Carta Encíclica do Santo Padre João Paulo II sobre a eucaristia na sua relação com a Igreja. Ed.Loyola, 2003.
7. Casais em 2ª União – Acolhida fraterna da Igreja. Pe. Luciano Scampini – Ed. Santuário – 1999
8. Casais em 2ª União – uma experiência de retiro espiritual e de encontro com a Divina Misericórdia. Pe. Luciano Scampini, Ed. Santuário, 2006
9. Casais em 2ª União – Uma Pastoral de esperança misericordiosa. Pe. Lu-ciano Scampini. Ed. Ser, 2002.
10. Casais em 2ª União e os Sacramentos na Familiaris Consortio. Pe. Lu-ciano Scampini. Ed. Santuário, 2004.
11. Casamentos que nunca deveriam ter existido – uma solução pastoral. Jesús Hortal, SJ, Ed. Loyola, 2004
12. Casos Especiais- Pastoral Familiar – Arquidiocese de Vitória, 2003
13. Cristãos divorciados e casados de novo – Dom Armand Le Bourgeois – AM Edições, 1997
14. Deus Uno e Trino. Carmita Overbeck. Paulinas, 2001
15. Diálogo em 4 dimensões – temas para a formação de casais e famílias. Olindo e Marilene Toledo, CNPF, 2003
16. Diretório da Pastoral Familiar – CNBB, 2005
17. Diretrizes gerais da ação pastoral da Igreja no Brasil, CNBB – Doc. 45 , 1991-1994
18. Existe uma saída? Para uma Pastoral de Divorciados. Häring Bernhard. Ed. Loyola, 1990
19. Família e política – justiça e paz se abraçarão – Ed. Vozes – 1995.
20. Família em cena – tramas, dramas e transformações. Adriana Wagner. Ed. Vozes, 2002
21. Família para um novo século – Frei Almir Ribeiro Gumarães – Ed. Vo-zes , 1997
22. Família… mas que família? Frei Almir Ribeiro Guimarães – Ed. Vozes , 1997
23. Família: fidelidade e felicidade – Rio de Janeiro – 1998
24. Ide e Evangelizai os Batizados. José H. Prado Flores. Ed. Louva-a-Deus, 1988
25. Guia de Orientação para os Casos Especiais – CNBB, 2005
26. Matrimônio e Divórcio na Igreja Católica. Bernardino Leers, OFM. Edi-tora Vozes, 1978
27. Matrimônio no Séc.21, falência ou realização? Christiane E. Blank , Ed. Paulinas, 1996
28. Missão e Ministérios dos Cristãos e Leigos e Leigas – Doc. 62 / CNBB – 6ª ed. 2000
29. No Início do Novo Milênio / Do sumo Pontífice João Paulo II – Ed. Pau-linas, 2001
30. Nulidade matrimonial . Ernesto N. Roman – Paulus – 1999
31. O Dom de Deus – Um Pai que vem ao nosso encontro – Ed. Ave Maria, 1999
32. O Senhor é meu Pastor – Consolo diário para o desamparo humano. Leonardo Boff. Ed. Sextante, 2004
33. Orientações pastorais sobre o matrimônio – Doc. 12 – CNBB, 8ª edição, Paulinas, 2004
34. Os cristãos diante do divórcio. Michel Legrain. Ed. Santuário, 1995
35. Os divorciados recasados na comunidade cristã – L. Scampini. Ed. Ser – 1996
36. Os Sacramentos trocados em miúdo. José Ribólla. Ed. Santuário, 2000
37. Pastoral de Casais em 2ª União – O Caminho da Salvação – Diocese de Jundiaí – 2000
38. Pastoral de Casais em 2ª União – Questões e critérios – Diocese Jundiaí – 1999
39. Pastoral de Casais em 2ª União – Reflexões e Propostas. Pe. Luciano Scampini, Ed. Santuário, 2005
40. Pastoral de Casais em 2ª União – Uma experiência pioneira – Diocese de Jundiaí – 1998
41. Pastoral dos Casais em 2ª União – Grupo de Casais Bom Pastor. Dom Altamiro Rossato. Porto Alegre, 1998
42. Pastoral Familiar – Casais em 2ª União, Grupo “Bom Pastor”. Temários 1 e 2 para reuniões. Porto Alegre, 2000
43. Pastoral Familiar na Paróquia – Guia de Implantação – Setor Família e Vida – CNBB. 2002
44. Pastoral Familiar no Brasil – Guia de Implantação – Doc. 65/ CNBB – Paulus, 1993
45. Quando o sol desaparece… Pastoral para os que se separam – Frei Al-mir Ribeiro Guimarães. Ed. Vozes – 1996
46. Setor Casos Especiais, Pastoral Familiar, Arquidiocese de Montes Cla-ros – MG.
47. SINM – O Projeto Ser Igreja no Novo Milênio – CNBB, 2000
48. Uma visão geral sobre a Pastoral de Casais em 2ª União – Diocese de Jundiaí, 2002
49. Vida e Família – Revista da Comissão Nacional da Pastoral Familiar – CNPF
50. Visão Global – Curso Intensivo Presencial para formação de Agentes – INAPAF
51. Casamentos Nulos – Como encaminhar uma causa de nulidade ma-trimonial ao Tribunal Eclesiástico. Pe. Dr. Rubens Miraglian Zani. Ed. Santuário, 2000