Muitas escolas costumam achar que sabem como tudo deve ser feito. Muitos pais, mães e responsáveis acham que participar da vida escolar é fiscalizar e reclamar. No meio destas duas posturas, a escola Estadual Dom Helvécio, em Ipatinga (MG), procura traçar um caminho intermediário para concretizar a relação entre família e escola.
Por meio de uma dinâmica promovida pela Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais, realizada em 2017, a gestão da Dom Helvécio percebeu a necessidade de aproximação entre os dois núcleos para oferecer aos alunos uma educação integral.
Para tanto, criaram o projeto Família na Escola que consiste em eleger familiares representantes das turmas de alunos para mediar a comunicação entre a escola e os demais responsáveis, por meio de grupos na rede social WhatsApp.
A iniciativa, que teve início em 2018 com os 450 alunos do Fundamental II da Dom Helvécio, já mostra resultados: aumentou a participação de pais, mães e responsáveis nas reuniões com os professores e a frequência de alunos nas aulas aos sábados.
“Os conflitos diminuíram porque a maioria vinha da falta de informação sobre o que estava acontecendo na escola”, conta Cíntia Rodrigues, responsável por implementar o projeto junto à direção.
O projeto Família na Escola
O primeiro passo do projeto foi eleger um pai, mãe ou responsável de cada turma e formar um grupo no WhatsApp, do qual também participam Cíntia e a direção.
As crianças levaram um comunicado para casa sobre a iniciativa, perguntando quem se disponibilizaria a ser o representante. Quando houve mais de um interessado, os alunos fizeram uma eleição. Depois, cada representante da turma criou outro grupo, com todos os familiares daquela sala.
A implementação do Família na Escola só foi possível nesta escola porque foi confirmado que pelo menos uma pessoa de todas as famílias tinha um celular com o aplicativo e acesso à internet. Do contrário, seria necessário garantir outras formas de participação que não excluíssem ninguém.
No grupo central, com representantes e gestão, compartilham informações e agendam reuniões mensais para debater datas, eventos, avaliações e demais assuntos. Já no grupo com um representante e os demais responsáveis de uma turma, repassam os convites para reuniões, as informações e o que foi decidido. Os demais familiares também podem pedir reuniões por meio desse representante, e discutir problemas com a turma, o desempenho dos alunos ou algo que está acontecendo na escola.
Para Cíntia, a dificuldade em mobilizar os demais responsáveis deixou de existir quando eles perceberam o engajamento dos representantes. “O que tem de mais especial nesse projeto é o fato de tirar a família de uma perspectiva espectadora. Agora ela tem responsabilidade junto com a gente e a oportunidade de decidir, opinar e participar efetivamente”.
Iaponira Lino, mãe que foi convidada a participar do grupo, confirma: “A iniciativa tem sido bem aceita pelos demais”.
Os processos de aprendizagem na relação entre família e escola
Durante a implementação da iniciativa, nem tudo correu tranquilamente. No começo, alguns membros utilizavam o grupo para eximir-se da responsabilidade de comparecer pessoalmente às reuniões da escola, bem como hostilizavam e expunham professores e alunos.
“Ficou parecendo que era um grupo só para reclamar, denunciar. Então convocamos uma reunião com todos, esclarecemos a finalidade do grupo e elaboramos em conjunto um documento com objetivos, função e regras sobre a ética de participação neste espaço, que serve de comunicação, mas não substitui a presença das famílias na escola“, explica Cíntia.
Uma maior participação dos familiares também exige mais da escola, que precisa se abrir e estar disposta a rever seus caminhos. Este é o processo vivido agora pela Dom Helvécio.
“As escolas têm uma cultura muito fechada à participação da família, de achar que sabe fazer tudo. Mas temos amadurecido isso, e a direção está gradativamente se abrindo para permitir que os pais tomem decisões, e isso faz com que a gente se sinta respaldados pela família”, afirma a professora.
Para Elisangela Menezes, uma das mães representantes de turma, esses pontos fazem parte do processo de aprender a utilizar a ferramenta. “Ela auxilia na resolução de problemas, contribui com o diálogo e com a integração entre todos”, diz.
“Estamos conseguindo construir essa cultura do pertencimento e da participação, de fazer todo mundo se sentir parte do processo. Não só os pais e mães são ouvidos, mas até os próprios funcionários. Nós estamos conseguindo ter mais voz”, comemora Cíntia.