Para o bispo auxiliar de Campo Grande (MS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, dom Eduardo Pinheiro da Silva, é necessário promover o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Esse debate é tratado na carta mensal dirigida aos párocos e demais responsáveis pela evangelização da juventude no Brasil. O bispo recorda as orientações do Documento 85 da CNBB – “Evangelização da Juventude”, que define linha de ação voltada ao direto à vida, que segundo ele, as paróquias são motivadas, à luz do Documento a “articular ações contra as violências que atentam ao direito à vida da juventude e estimular a inserção da Igreja nos conselhos de direito e nos espaços de decisão política, em todas as suas instâncias”.
Confira a íntegra do texto:
Brasília, 1º de Setembro de 2014.
Caros párocos e demais responsáveis pela evangelização da juventude no Brasil.
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”
(Jo 10,10)
Jesus Cristo vem ao nosso meio para resgatar, libertar, potencializar, defender a vida. O Deus da Vida que não suporta ver seus filhos na miséria, injustiçados, explorados, marginalizados, violentados nos convoca a um mutirão.Se a missão do Mestre é esta de servir ao Pai nos irmãos, a nossa, seus seguidores, não poderia ser diferente! (Jo 13,14-15). Setembro: mês da Bíblia no mês da Primavera, recordando-nos que o Criador sempre está nos recriando em seu amor e nos convocando à missão de florir de sentido a vida dos irmãos.
“Obrigado por me devolverem a vida!”, foi o que testemunhou uma jovem aos fundadores da Fazenda da Esperança, no 15º ano de sua instalação na cidade de Rio Brilhante, MS. As suas lágrimas de emoção se misturavam com uma grande ação de graças pelo serviço da Igreja no processo de sua libertação e resgate do sentido da vida. À semelhança desta magnifica obra de Deus, tantas outras têm se dedicado a “devolver” a vida aos adolescentes e jovens, como a primavera que anualmente se renova em flor. A vida, criada e acompanhada pelo Criador, clama, mais do que nunca, pela defesa das novas gerações e pelo cultivo de seus valores.
O serviço de evangelização da juventude, além de proporcionar condições para a formação integral dos jovens em suas várias dimensões, conta, também, com ações pontuais e proféticas da instituição eclesial na luta pela garantia dos direitos básicos das juventudes. A presença qualificada da Igreja na sociedade sugere, cobra, acompanha e defende projetos favoráveis aos jovens. “Frente à situação de extrema vulnerabilidade a que está submetida a maioria dos jovens brasileiros, é necessária uma firme atuação de todos os segmentos da Igreja no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Isso se desdobra e concretiza no direito à educação, ao trabalho e à renda, à cultura e ao lazer, à segurança, à assistência social à saúde e à participação social” (Doc. 85 CNBB, n. 230).
O Encontro de Revitalização da Pastoral Juvenil no Brasil, ocorrido em dezembro passado à luz do Documento 85 da CNBB, ao se referir sobre a 8a. Linha de Ação – DIREITO À VIDA – definiu, assim, para os próximos anos, as duas PISTAS DE AÇÃO:
1. articular ações contra as violências que atentam ao direito à vida da juventude;
2. estimular a inserção da Igreja nos conselhos de direito e nos espaços de decisão política, em todas as suas instâncias.
Essas duas pistas de ação são bem claras e desafiadoras. A primeira nos remete para a necessidade de detectar e combater as diversas formas de violência contra a juventude. E a segunda, nos convoca a assumirmos os diversos espaços privilegiados de intervenção em vista daquelas políticas públicas consonantes com os princípios e as orientações da Igreja, a favor dos jovens.
Estamos às portas das eleições e o cristão deve estar atento para levar ao poder aqueles e aquelas que realmente estão comprometidos com a defesa da vida de todos os cidadãos, desde a sua concepção natural. Deus nos livre de candidatos e partidos que defendem, explícita ou implicitamente, temas destruidores da vida das novas gerações, como, por exemplo: o aborto, os métodos repressivos de combate à violência, a redução da maioridade penal, a liberação da maconha, a licenciosidade sexual, etc. “Uma experiência cristã madura impõe o enfrentamento da realidade e sua transformação para que todos tenham vida em plenitude. O Papa Francisco lembra a importância da participação política dos cristãos e sua responsabilidade na difícil, porém necessária, construção de uma sociedade mais justa: ‘devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum’. Segundo o Papa, se a política se tornou uma coisa ‘suja’, isso se deve também ao fato de que ‘os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico’. É preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela situação atual da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja.” (Desafios diante das Eleições 2014, CNBB, p.12).
Neste processo de defesa da vida, a Igreja sempre acreditou na importância da participação dos próprios jovens em vista de seus direitos. Desde a adolescência é importante auxiliá-los na percepção dos problemas sócio-econômico-culturais, na sensibilidade diante do sofrimento do próximo, no amadurecimento do exercício de sua cidadania. Um dos preciosos contributos para a capacitação dos jovens se encontra nas oportunidades oferecidas pela paróquia em vista do desenvolvimento de suas habilidades de líder e do exercício do protagonismo para o bem comum. “A Igreja deposita confiança na força transformadora que brota dos jovens. Nesse sentido, insiste para que se abram a eles ‘canais de participação e envolvimento nas decisões, que possibilitem uma experiência autêntica de corresponsabilidade, de diálogo, de escuta e o envolvimento no processo de renovação contínua da Igreja. Trata-se de valorizar a participação dos jovens nos conselhos, reuniões de grupos, assembleias, equipes, nos processos de avaliação e planejamento’. Essa pedagogia do engajamento na comunidade deve, por sua vez, motivar um envolvimento real dos jovens na construção de uma sociedade mais justa, impulsionando-os a uma participação mais efetiva nas decisões políticas” (Desafios diante das Eleições 2014, CNBB, p.15).
Os jovens têm “direito à vida” e nós, adultos, somos chamados a ajudá-los em suas conquistas. Em âmbito paroquial podemos fazer muito mais do que já estamos fazendo para a capacitação destes jovens cidadãos cristãos. Eis algumas sugestões que poderiam fazer a diferença:
1) organizar anualmente, com as várias forças paroquiais, atividades de conscientização e combate firme às drogas ilícitas;
2) conhecer e divulgar o trabalho precioso das Comunidades Terapêuticas locais, da Pastoral da Sobriedade e das outras iniciativas em vista da recuperação dos adolescentes e dos jovens alcoólatras;
3) inteirar-se da Campanha nacional, encabeçada pelas Pastorais da Juventude, contra a violência aos jovens;
4) ousar um projeto arrojado, com as várias forças locais, em vista da defesa da instituição familiar, como primeiro espaço de direito à vida;
5) proporcionar ao jovem um adequado conhecimento da Doutrina Social da Igreja, com estudos sistemáticos e elaboração de projetos por ele inspirados, para suscitar encantamento pelo bem comum e fomentar a militância dos jovens na sociedade;
6) averiguar, principalmente na catequese e nos espaços juvenis paroquiais, a frequência e a qualidade dos debates sobre temas que violentam cotidianamente a vida dos jovens: drogas, redução da maioridade penal, violência juvenil, desestruturação familiar, destruição da natureza, desemprego, aborto, condicionamentos midiáticos, vivência inadequada da sexualidade, etc.
7) coletar assinaturas dos jovens para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular de Reforma Política Democrática, cuja elaboração contou com a significativa participação da CNBB;
8) incentivar os jovens a descobrirem e organizarem novas formas de defesa da vida e combate aos contra valores culturais, por meio das redes sociais, da arte, da música, do teatro, da dança e de outras expressões da cultura juvenil, encontros que despertem suas lideranças para a defesa da vida;
9) incentivar os jovens mais adultos da paróquia a se engajarem nos espaços públicos de decisão, principalmente no Conselho Municipal da Juventude;
10) sensibilizar os paroquianos adultos para uma maior participação no poder público em vista da efetivação de mais projetos e leis a favor da vida dos jovens e da instituição familiar.
O empenho por uma sociedade mais justa e solidária é um dos passos mais importantes para a instauração do Reino de Deus, mas não basta. A Igreja tem plena consciência de seu permanente papel de anunciar e mostrar ao povo o único “caminho, verdade e vida” – Jesus Cristo – sem o qual todas as nossas lutas sempre carecerão de sustento consistente e de sentido profundo da existência humana. Ao anunciar a origem e a finalidade da vida, ao celebrar a relação amorosa da criatura com o Criador e ao se empenhar pela caridade evangélica que transforma desde dentro as pessoas, estaremos prestando o mais nobre serviço de defesa da vida e dos valores que a dignificam.
Inclinemo-nos diante de Maria, a filha predileta de Deus, que deu sentido à própria vida entregando-se por inteira ao projeto do Pai. Acolhamos suas inúmeras intercessões e seu modelo de discípula missionária em nossas buscas de fidelidade na vocação de servir à vida.
Com estima,
Dom Eduardo Pinheiro da Silva, sdb
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB
Por Assessoria CNPF com CNBB.