Nesta quarta-feira de cinzas (2), o Papa Francisco continuou com as catequeses sobre a velhice, na Audiência Geral, realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano. O tema deste encontro foi a “Longevidade: símbolo e oportunidade”. Para iniciar, Francisco lembrou que a bíblia traz algumas genealogias, que seguem por séculos. “Esta cadência secular do tempo, narrada em estilo ritual, confere à relação entre longevidade e genealogia um profundo significado simbólico, forte, muito forte”, apontou o Pontífice.
“É como se a transmissão da vida humana, tão nova no universo criado, exigisse uma iniciação lenta e prolongada. Tudo é novo, no início da história de uma criatura que é espírito e vida, consciência e liberdade, sensibilidade e responsabilidade. Durante este longo período de tempo, a qualidade espiritual do homem é também lentamente cultivada. Os tempos de transmissão são mais curtos, mas os tempos de assimilação requerem sempre paciência”, continuou o Papa.
O Santo Padre destacou que o excesso de velocidade, que agora obceca todas as fases da nossa vida, torna cada experiência mais superficial e menos “nutriente”. “Os jovens são vítimas inconscientes desta divisão entre o tempo do relógio, que quer ser queimado, e os tempos da vida, que requerem uma adequada “fermentação”. Uma vida longa permite experimentar estes longos tempos, e os danos da pressa”, disse.
Segundo o Papa, a velhice certamente impõe ritmos mais lentos: mas não são apenas tempos de inércia. De fato, a medida destes ritmos abre, para todos, espaços de significado da vida desconhecidos pela obsessão da velocidade. “A perda de contato com os ritmos lentos da velhice fecha estes espaços para todos”, ressaltou.
Para o Pontífice, a aliança entre as duas gerações extremas da vida, crianças e idosos, também ajuda as outras duas, jovens e adultos, a criar laços entre si para tornar a existência de todos mais rica em humanidade. “É necessário o diálogo entre as gerações, se não há diálogo entre jovens, idosos e adultos, se não há diálogo, cada geração permanece isolada e não pode transmitir a mensagem. Um jovem que não está ligado às suas raízes que são os avós, não recebe a força, como a árvore, das raízes, e cresce mal, cresce doente, cresce sem referência. É preciso buscar como uma exigência humana o diálogo entre as gerações. É importante o diálogo entre avós e netos que são os dois extremos”, reforçou.
“Esta sociedade que tem o espírito do descarte, descarta as crianças que não são bem-vindas e descarta os idosos, descarta, não são necessários. A velocidade nos coloca numa centrífuga que nos varre como confetes. Perdemos completamente de vista o todo. Cada um agarra-se ao seu pedacinho, flutuando sobre os fluxos da cidade-mercado, para a qual ritmos lentos são perdas e velocidade é dinheiro. A velocidade excessiva pulveriza a vida, não a torna mais intensa. A sabedoria nos pede para perder tempo”, completou Francisco.
O ritmo dos idosos
O Papa destacou a importância de perder tempo com os filhos, com as crianças, pois este diálogo é fundamental para a sociedade. Não somente com os pequenos, mas com os idosos, com um avô ou uma avó “que talvez não raciocina bem ou perdeu a capacidade de falar, mas você está ali com ele ou com ela, perdendo tempo, e esse perder tempo, fortifica a família humana”. Segundo Francisco, “crianças e idosos nos dão outra capacidade de ver a vida”.
“Os ritmos da velhice são um recurso indispensável para apreender o significado da vida marcada pelo tempo. Os idosos têm o seu ritmo, mas são ritmos que nos ajudam. Graças a esta mediação, com os idosos, o destino da vida ao encontro com Deus torna-se mais crível: um desígnio que se esconde na criação do ser humano “à sua imagem e semelhança” e que é selado com o Filho de Deus que se fez homem”, disse o Pontífice.
Aliança das gerações
Francisco ressaltou que nos tempos atuais há uma maior longevidade da vida humana e que isto nos dá a oportunidade de incrementar a aliança entre todos os tempos da vida. “Temos de fazer mais aliança, nos ajuda aumentar e aliança também com o sentido da vida na sua totalidade. O sentido da vida não está somente na idade adulta, dos vinte cinco anos aos sessenta, não. O sentido da vida vai do nascimento até a morte e você tem de ser capaz de dialogar com todos, cultivar relações afetivas com todos. Assim a sua maturidade será mais rica, mais forte”, apontou.
O Santo Padre finalizou com uma oração. “A aliança das gerações é indispensável. Numa sociedade em que os idosos não falam com os jovens, os jovens não falam com os idosos, e os adultos não falam com os idosos e nem com os jovens, é uma sociedade estéril, sem futuro, uma sociedade que não olha para o horizonte, mas olha a si mesma, e se torna sozinha. Que Deus nos ajude a encontrar a música adequada para esta harmonização das diferentes idades, crianças, idosos e adultos, todos juntos, uma verdadeira sinfonia de diálogo”, concluiu o Papa.