Na solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, no último sábado, 1º de janeiro, o Papa Francisco fez um convite ao empenho “para promover as mães e proteger as mulheres”. Francisco quis dar um basta à violência contra as mulheres. “Ferir uma mulher é ultrajar a Deus, que tomou duma mulher a humanidade”, exortou.
Em sua homilia, Francisco refletiu sobre o Evangelho do dia, do capítulo 2 de São Lucas, quando os pastores encontram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. A partir do texto bíblico, o Papa refletiu sobre a atitude da Mãe de Jesus em “suportar «o escândalo da manjedoura»” e guardar e meditar os acontecimentos em seu coração.
Escândalo da manjedoura
Como mãe, Maria teve de suportar o que Francisco chamou de “escândalo da manjedoura”, também ligado ao que se vive entre “expectativa e realidade”.
Antes da visita dos pastores narrada no Evangelho do primeiro dia do ano, houve o anúncio do anjo com palavras solenes, falando-Lhe do trono de Davi (cf. Lc 1, 31-32), e após o nascimento, o menino acaba tendo de ser colocado numa manjedoura para animais.
“Como harmonizar o trono do rei e a pobre manjedoura? Como conciliar a glória do Altíssimo e a miséria dum estábulo? Pensemos no desconsolo da Mãe de Deus. Que há de mais duro, para uma mãe, do que ver o seu filho sofrer a miséria? É caso para se sentir desconsolado. Não se poderia censurar Maria, se Se lamentasse de toda aquela desolação inesperada. Ela, porém, não perde a coragem. Não Se queixa, mas está em silêncio. Em vez dos nossos queixumes, opta por uma saída diversa: «Quanto a Maria – diz o Evangelho –, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração» (Lc 2, 19)”, sublinha Francisco.
O Papa ensina que a cada um, que também pode ter de suportar certos “escândalos da manjedoura”, é possível tirar proveito da colisão entre expectativa e realidade. E isso pode acontecer também na fé, “quando a alegria do Evangelho é posta à prova numa situação difícil por que passamos”.
Guardar meditando
Ao invés de ficar desconsolada, Maria guarda os acontecimentos em seu coração meditando. E é isso que Francisco indica como aprendizado.
“Esperamos que tudo corra bem, mas depois, como relâmpago em céu sereno, chega um problema inesperado. E gera-se uma dolorosa colisão entre as expetativas e a realidade. E pode acontecer também na fé, quando a alegria do Evangelho é posta à prova numa situação difícil por que passamos. Mas hoje a Mãe de Deus ensina-nos a tirar proveito desta colisão. Mostra-nos a sua necessidade: é o caminho estreito para chegar à meta, é a cruz sem a qual não se ressuscita. É como um parto doloroso, que dá vida a uma fé mais madura”.
Maria “guarda tudo no coração, tudo aquilo que viu e ouviu: não só as coisas lindas, como o que Lhe dissera o anjo e aquilo que contaram os pastores, mas também as coisas difíceis de aceitar: o perigo que correu aparecendo grávida antes do casamento, agora a triste desolação do estábulo onde deu à luz”. A Mãe de Deus acolhe a realidade como vem, “não tenta camuflar, maquilhar a vida; guarda no coração”.
Soma-se a isso a meditação: “Maria compara experiências diferentes, encontrando os fios ocultos que as interligam. No seu coração, na sua oração realiza esta operação extraordinária: interliga as coisas lindas e as coisas duras; não as mantém separadas, mas une-as. E por isso Maria é a Mãe da catolicidade”.
No seu coração de mãe, continua Francisco, Maria compreende que a glória do Altíssimo passa pela humildade; “acolhe o plano da salvação, segundo o qual Deus devia descansar numa manjedoura. Vê o Menino divino frágil e tiritando de frio, e acolhe o maravilhoso entrelaçamento divino de grandeza e pequenez”.
Este olhar inclusivo, que supera as tensões guardando e meditando no coração, é o olhar das mães, disse o Papa. Mães que, nas tensões, não separam, mas guardam-nas, e assim cresce a vida. “É o olhar com que muitas mães abraçam as situações dos filhos. É um olhar concreto, que não se deixa condicionar pelo desconsolo, nem se deixa paralisar perante os problemas, mas coloca-os num horizonte mais amplo”.
Francisco lembrou das mães que veem um filho doente ou em dificuldade. “Quanto amor há nos seus olhos, banhados de lágrimas, que ao mesmo tempo sabem inspirar motivos de esperança! Trata-se de um olhar consciente, sem ilusões, e, todavia, sem se deter na tristeza e nos problemas, oferece uma perspectiva mais ampla, a perspectiva do cuidado, do amor que regenera a esperança. É isto que fazem as mães: sabem superar obstáculos e conflitos, sabem infundir a paz”.
Foto de capa: Vatican Media