Nesta quinta-feira (8), Dia de Santa Josefina Bakhita, o Papa Francisco publicou uma mensagem para o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas. O texto convida os fiéis a abrir as vidas e os corações a tantas irmãs e irmãos que são tratados como escravos. “Se fecharmos nossos olhos e ouvidos, se permanecermos indiferentes, seremos cúmplices”, disse.
História de Santa Josefina Bakhita
A irmã morena, assim era carinhosamente chamada santa Josefina Bakhita, nasceu em uma aldeia perto da montanha Agilerei, no Sudão, em 1869. Tendo sido vendida e comprada por várias vezes, experimentou diversas humilhações e sofrimentos físicos da escravidão. A experiência dolorosa fez com que esquecesse o próprio nome – Bakhita, que significa afortunada, foi o nome que recebeu de comerciantes de escravos.
Comprada por um cônsul italiano, a santa foi levada para a Itália, onde foi entregue a uma família em Veneza, quando passou a ser a babá e amiga da menina. Bakhita conheceu Cristo com as religiosas de Santa Madalena de Canossa, onde ficou com a criança enquanto a família teve que voltar à África. Foi batizada aos 21 anos, recebendo o nome Josefina. Dedicou-se por mais de cinquenta anos às várias ocupações no convento. Foi cozinheira, responsável pelo guarda-roupa, bordadeira, sacristã e porteira.
A “santa irmã morena” morreu em 8 de fevereiro de 1947. Em 1992, Bakhita foi beatificada por são João Paulo II e canonizada pelo mesmo Pontífice em 1º de outubro de 2000, após o reconhecimento da cura milagrosa de Eva Tobias da Costa, brasileira, moradora de Santos (SP), que havia rezado pela intercessão de Bakhita em 1980.
Leia a mensagem do Santo Padre na íntegra:
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O X DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO E REFLEXÃO CONTRA O TRÁFICO DE PESSOAS
8 de fevereiro de 2024
Caminhando pela dignidade: escutar, sonhar, agir
Queridas irmãs, queridos irmãos!
Tem lugar hoje, memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, o X Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas. De todo o coração me uno a vós, especialmente aos jovens, que em todo o mundo trabalhais para debelar este drama global.
Juntos, sigamos os passos de Santa Bakhita, a freira sudanesa que em criança acabou vendida como escrava e foi vítima de tráfico. Recordemos a injustiça que sofreu, as suas tribulações, mas também a sua força e o seu percurso de libertação e renascimento para uma vida nova. Santa Bakhita anima-nos a abrir os olhos e os ouvidos para ver os invisíveis e ouvir quantos não têm voz, para reconhecer a dignidade de cada um e agir contra o tráfico e toda a forma de exploração.
Muitas vezes o tráfico é invisível. Os media, graças também a repórteres corajosos, fazem luz sobre as escravidões do nosso tempo, mas a cultura da indiferença anestesia-nos. Ajudemo-nos mutuamente a reagir, a abrir as nossas vidas, os nossos corações a tantas irmãs e tantos irmãos que são tratados como escravos. Nunca é tarde demais para nos decidirmos a fazê-lo.
E, graças a Deus, são numerosos os jovens que se comprometem na causa deste Dia Mundial. O seu entusiasmo aponta-nos o caminho, dizendo-nos que, contra o tráfico, temos de escutar, sonhar e agir.
É fundamental ter a capacidade de escutar quem está a sofrer. Penso nas vítimas dos conflitos, das guerras, nas pessoas afetadas pelos efeitos das alterações climáticas, nas multidões de migrantes forçados, em quem é objeto de exploração sexual ou laboral, nomeadamente mulheres e meninas. Escutemos o seu grito de ajuda, deixemo-nos interpelar pelas suas histórias; e, juntamente com as vítimas e os jovens, voltemos a sonhar um mundo onde as pessoas possam viver em liberdade e com dignidade.
E depois, irmãs e irmãos, com a força do Espírito de Jesus Cristo temos de transformar este sonho em realidade, através de ações concretas de combate ao tráfico. Comprometamo-nos a rezar e agir por esta causa da dignificação: rezar e agir tanto pessoalmente, como nas famílias, nas comunidades paroquiais e religiosas, nas associações e movimentos eclesiais, e mesmo nos vários âmbitos sociais e na política.
Sabemos que é possível combater o tráfico, mas precisamos de chegar à raiz do fenómeno, erradicando as suas causas. Por isso, encorajo-vos a responder a este apelo à transformação, em memória de Santa Josefina Bakhita, símbolo daqueles que, reduzidos infelizmente à escravatura, ainda podem recuperar a liberdade. É um apelo para não ficarmos parados, mobilizarmos todos os nossos recursos na luta contra o tráfico e restituirmos plena dignidade a quantos são vítima do mesmo. Se fecharmos olhos e ouvidos, se ficarmos inertes, seremos cúmplices.
De coração vos agradeço e abençoo, a vós que trabalhais na causa promovida por este Dia, e abençoo todos aqueles que querem empenhar-se contra o tráfico e toda a forma de exploração para construir um mundo de fraternidade e de paz.
Roma – São João de Latrão, na Memória de Santa Josefina Bakhita, 8 de fevereiro de 2024.
FRANCISCO