Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Queridos irmãos e irmãs!
Com o tema: “Cristo nos salva e nos envia” e o lema é “Quem escuta a minha palavra possui a vida eterna” (cf. Jo 5,24), a Igreja no Brasil celebra durante o mês de agosto, o Mês Vocacional que é um tempo dedicado à oração, reflexão e ação nas comunidades com o foco nas vocações. O tema deste ano vem da Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Christus Vivit (Cristo vive), do Papa Francisco.
Todas as vocações serão lembradas, rezadas e celebradas neste mês de agosto: a vocação presbiteral, no primeiro domingo, com o “Dia do Padre”, a vocação ao matrimônio, no segundo domingo, com o “Dia dos Pais”, a vocação à vida religiosa, no terceiro domingo, Dia dos religiosos e religiosas, a vocação dos leigos e leigas, com o Dia do catequista. Portanto, será um mês fecundo para a vida da Igreja, pois quando falamos de “vocação” estamos lembrando que todos os batizados e batizadas são chamados por Deus para o seguimento do seu Filho e para a missão de continuar, no mundo, a mesma vida do Filho eterno, que se fez Homem “propter nos homines et propter nostram salutem” – “por nós homens e para nossa salvação” (SÍMBOLO NICENO-CONSTANTINOPOLITANO).
A vocação é o resultado da vontade de Deus de “sair” de si para dar-se a outro ser. Nisto consiste a relação: Deus quer unir-se a outro ser que não Ele mesmo. Isso é universal. Deus não se dá a nós, ministros ordenados, como se fosse um “privilégio”, como se tratasse de uma graça particular. Nós participamos dessa ação universal e unitária do projeto de Deus: Deus cria para unir-se ao criado. Cria por amor. E isso, com todas as consequências: de fato, se por um lado não aceitamos o “Pan-teísmo”, isto é, não consideramos que tudo é Deus, por outro lado, proclamamos um “Pan-en-teísmo”, isto é, Deus em todas as coisas, justamente por Ele ser o criador, manifestando com isso que Ele cria para estar unido ao criado. A vocação é um caminho a percorrer, da provisoriedade do efêmero à completude do definitivo. No efêmero já somos envolvidos pelo Mistério amoroso e misericordioso do nosso Deus. Vocação é vivência na fé, na esperança e na caridade, especialmente a caridade, por aquilo que já nos exortou o Apóstolo (cf. 1Cor 13,13). Mas, também pela exortação do Concílio Vaticano II: o que distingue a espiritualidade do presbítero diocesano é a “caridade pastoral”. Não é uma exclusividade, pois todo cristão, todo discípulo missionário é chamado a seguir o caminho da caridade, até transformar em “estilo de vida”. Ela é o exercício da caridade para com as ovelhas que pertencem ao Pastor. Onde estão as ovelhas acontece o “kairós” de Deus.
O amor de Deus dá a fisionomia da vocação. E essa iniciativa, gratuita e graciosa, faz o ser humano participar da vida divina, é uma graça de participação. Dizemos isso no Tempo do Natal: o Filho de Deus é por natureza o que somos por participação. Pois assim reflete a fé e a teologia: “o Filho de Deus assume o que somos, para que possamos ser o que Ele é”.
Fonte: CNBB