Em 8 de março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher, uma data na qual é recordada a dignidade feminina e são promovidas reflexões sobre as importância e os direitos das mulheres. Na Igreja Católica, isso é acrescido pela oportunidade de recordar o destaque na história de salvação e a relevância do “gênio feminino” para a Igreja e a sociedade.
Estatuto especial de dignidade
São João Paulo II dedicou uma carta apostólica sobre a dignidade e a vocação da mulher, em 1988. Em Mulieris Dignitatem o pontífice ressaltou que as mulheres têm no cristianismo “mais que em qualquer outra religião” um estatuto especial de dignidade, “do qual o Novo Testamento nos atesta não poucos e não pequenos aspectos (…); aparece com evidência que a mulher é destinada a fazer parte da estrutura viva e operante do cristianismo de modo tão relevante, que talvez ainda não tenham sido enucleadas todas as suas virtualidades”.
Ele recorda a “elevação sobrenatural à união com Deus, em Jesus Cristo”, que no caso de Maria, se dá na união entre mãe e filho: “A virgem de Nazaré torna-se, de fato, a Mãe de Deus”.
Jesus: respeito e honra às mulheres
Em sua atuação, Jesus demonstra em suas palavras e obras o respeito e a honra devidos à mulher:
“A mulher recurvada é chamada « filha de Abraão » (Lc 13,16), enquanto em toda a Bíblia o título « filho de Abraão » é atribuído só aos homens. Percorrendo a via dolorosa rumo ao Gólgota, Jesus dirá às mulheres: « Filhas de Jerusalém, não choreis por mim » (Lc 23, 28). Este modo de falar às mulheres e sobre elas, assim como o modo de tratá-las, constitui uma clara « novidade » em relação aos costumes dominantes do tempo”.
MD, 13
Sobre esse comportamento de Jesus a respeito das mulheres, João Paulo II afirma ser “o reflexo do desígnio eterno de Deus, o qual, criando cada uma delas, a escolhe e ama em Cristo (cf. Ef 1, 1-5)”. Por isso, continuou, “cada mulher é aquela « única criatura na terra que Deus quis por si mesma ». Cada mulher herda do « princípio » a dignidade de pessoa precisamente como mulher. Jesus de Nazaré confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho e da redenção, para a qual é enviado ao mundo”.
Costumes inaceitáveis
De 1988 até 2016, várias melhorias relacionadas aos direitos das mulheres foram observadas em todo o mundo. E isso é observado pelo Papa Francisco na exortação apostólica Amoris Laetitia. Mas também são lembradas situações que precisam avançar, como a erradicação daquilo que ele chama de “costumes inaceitáveis”.
“Destaco a violência vergonhosa que, às vezes, se exerce sobre as mulheres, os maus-tratos familiares e várias formas de escravidão, que não constituem um sinal de força masculina, mas uma covarde degradação. A violência verbal, física e sexual, perpetrada contra as mulheres nalguns casais, contradiz a própria natureza da união conjugal. Penso na grave mutilação genital da mulher nalgumas culturas, mas também na desigualdade de acesso a postos de trabalho dignos e aos lugares onde as decisões são tomadas. A história carrega os vestígios dos excessos das culturas patriarcais, onde a mulher era considerada um ser de segunda classe, mas recordemos também o «aluguel de ventres» ou «a instrumentalização e comercialização do corpo feminino na cultura mediática contemporânea»”.
Papa Francisco, Amoris Laetitia
Francisco chama atenção também na Amoris Laetitia sobre a consideração de que muitos dos problemas atuais ocorreram a partir da emancipação da mulher. Mas, exorta: “este argumento não é válido, ‘é falso, não é verdade! Trata-se de uma forma de machismo’”.
“A idêntica dignidade entre o homem e a mulher impele a alegrar-nos com a superação de velhas formas de discriminação e o desenvolvimento dum estilo de reciprocidade dentro das famílias. Se aparecem formas de feminismo que não podemos considerar adequadas, de igual modo admiramos a obra do Espírito no reconhecimento mais claro da dignidade da mulher e dos seus direitos”, escreveu o Papa.
Dar força às mulheres
Antes ainda da publicação da Amoris Laetitia, quando realizou um ciclo de catequeses sobre a família, o Papa Francisco falou da necessidade de a mulher não ser somente mais ouvida, mas que a sua voz tenha um peso real, uma autoridade reconhecida tanto na sociedade como na Igreja. Na oportunidade, em 2015, ele recordou que, mesmo num contexto menos favorável, no qual a mulher ocupava realmente o segundo lugar, “Jesus considerou-a de uma maneira que lança uma luz poderosa, que ilumina um caminho que vai longe, do qual percorrermos apenas um breve trecho”.
“Ainda não entendemos em profundidade aquilo que nos pode proporcionar o gênio feminino, o que a mulher pode oferecer à sociedade e também a nós: a mulher sabe ver tudo com outros olhos, que completam o pensamento dos homens. Trata-se de uma senda que devemos percorrer com mais criatividade e audácia”, afirmou o Papa.
Leia também: