O Papa Francisco concedeu uma entrevista coletiva aos jornalistas que participaram, na primeira semana de novembro, da cobertura da Viagem Apostólica realizada pelo Pontífice ao Bahrein. Na ocasião, o Santo Padre ressaltou a dignidade da mulher e a necessidade de que todos busquemos melhores condições de vida e de oportunidades para elas.
“Devemos continuar lutando por isso, porque as mulheres são uma dádiva. Deus não criou o homem e depois lhe deu um cachorrinho para se divertir. Não! Ele os criou dois, o mesmo: homem e mulher. E o que Paulo escreveu em uma de suas Cartas sobre a relação homem-mulher, que hoje parece antiquada, naquele momento foi tão revolucionário que escandalizou: a fidelidade do homem à mulher, e que o homem “cuida da mulher como de sua própria carne” (cf. 2 Cor 5: 28-29). E isso naquele momento era uma coisa revolucionária! Todos os direitos das mulheres vêm dessa igualdade. E uma sociedade que não consegue colocar a mulher em seu lugar não está avançando”, destacou o Papa.
No livro “Torniamo a sognare” (Voltemos a sonhar), o Papa relembra que as mulheres têm um dom diferente e que na economia, por exemplo, são capazes de oferecer novos caminhos. “Elas sabem administrar as coisas de outra forma, que não é inferior, é complementar”, disse. “A mulher para resolver o problema tem seu próprio caminho, que não é o do homem. E os dois caminhos devem trabalhar juntos: mulheres iguais aos homens trabalham pelo bem comum com essa intuição que as mulheres têm. Vi que no Vaticano, cada vez que uma mulher vem fazer um trabalho, as coisas melhoram”, completou Francisco.
O Santo Padre acrescentou ainda que as mulheres não precisam se tornar como os homens, pois o mundo precisa delas como são. O Papa falou ainda sobre a participação das mulheres na política. “Uma sociedade que elimina as mulheres da vida pública é uma sociedade que se empobrece. Igualdade de direitos, sim, mas também igualdade de oportunidades, igualdade para avançar, porque ao contrário somos empobrecidos”, explicou.
Abusos de menores
Na coletiva, o Santo Padre voltou a falar sobre a questão de denúncias de abusos sexuais de menores por integrantes da Igreja. O Papa ressaltou que todos devemos estar alertas em relação a este mal que está inserido na sociedade.
“O problema do abuso sempre esteve, sempre, não só na Igreja. Em toda parte. Você sabe que 42-46% dos abusos sexuais ocorrem na família ou na vizinhança: isso é muito grave. Mas sempre o hábito foi cobrir. Ainda hoje tudo está coberto na família, e até no bairro está tudo coberto, ou pelo menos a maior parte”, destacou. Francisco lembrou que o hábito começou a mudar na Igreja a partir do escândalo de Boston do Cardeal Law, que renunciou. . “A partir daí a Igreja tomou consciência disso e começou a trabalhar, enquanto na sociedade ela normalmente se cobre, normalmente, em outras instituições”, afirmou.
Por fim, o Papa disse que de acordo com estatísticas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) o número de casos realizados por integrantes da igreja é baixo. “Mas se fosse só um é trágico, é trágico, porque você sacerdote tem a vocação de fazer crescer as pessoas e com isso as destrói. Para um padre é como ir contra sua própria natureza sacerdotal, até mesmo contra sua própria natureza social. É por isso que é uma coisa trágica e não devemos parar, não devemos parar”, concluiu.