No Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, celebrado nesta terça-feira (8), o Papa Francisco chama atenção sobre as condições de tantas mulheres e meninas que são submetidas a várias formas de exploração, escravidão doméstica e no trabalho. A data é comemorada no mesmo dia de Santa Josefina Bakhita, religiosa que sofreu as dores da escravidão no Sudão, mas conheceu o amor de Deus, a quem decidiu se consagrar.
“Trata-se de uma ferida profunda, infligida pela vergonhosa perseguição de interesses econômicos sem qualquer respeito pela pessoa humana. Tantas jovens – vêmo-las nas ruas – que não são livres, são escravas de traficantes, que as enviam a trabalhar e, se não levarem o dinheiro, são espancadas. Isto acontece hoje nas nossas cidades. Pensemos seriamente nisto”, alertou o Pontífice durante a oração do Angelus no domingo (6), e reforçada nesta terça-feira (8).
“A força do cuidado. Mulheres, economia e tráfico de seres humanos” é o tema deste ano do Dia Mundial. “Milhares de mulheres e meninas que são traficadas todos os anos denunciam as consequências dramáticas dos modelos relacionais baseados na discriminação e submissão”, disse Francisco em mensagem.
O Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas é promovido pela União Internacional das Superioras Gerais (UISG) e pela União dos Superiores Gerais (USG). Na mensagem, o Papa agradeceu ao grupo Talitha Kum que coordena a iniciativa em colaboração com muitas organizações locais e internacionais. O Santo Padre ressaltou que esta deve ser uma luta de toda a sociedade.
“A organização das sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir claramente o fato de que as mulheres têm a mesma dignidade e direitos dos homens. Infelizmente, nota-se que duplamente pobres são as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque frequentemente têm menores possibilidades de defender os seus direitos”, disse o Papa.
“O Tráfico de pessoas é violência! A violência sofrida por toda mulher e menina é uma ferida aberta no corpo de Cristo, no corpo de toda a humanidade, é uma ferida profunda que diz respeito também a cada um de nós”, apontou ainda Francisco. “Juntos, podemos e devemos lutar para que os direitos humanos se expressem de forma específica, no respeito à diversidade e no reconhecimento da dignidade de cada pessoa, tendo no coração de forma particular aqueles que são prejudicados em seus direitos fundamentais”, completou.
Santa Bakhita
Francisco recordou o testemunho de Santa Josefina Bakhita que mostra o caminho para a transformação. “A sua vida nos diz que a mudança é possível quando nos deixamos transformar pelo cuidado que Deus tem por cada um de nós. É o cuidado da misericórdia, é o cuidado do amor que nos transforma profundamente e nos torna capazes de acolher os outros como irmãos e irmãs”, afirmou.
A irmã morena, assim era carinhosamente chamada santa Josefina Bakhita, nasceu em uma aldeia perto da montanha Agilerei, no Sudão, em 1869. Tendo sido vendida e comprada por várias vezes, experimentou diversas humilhações e sofrimentos físicos da escravidão. A experiência dolorosa fez com que esquecesse o próprio nome – Bakhita, que significa afortunada, foi o nome que recebeu de comerciantes de escravos.
Comprada por um cônsul italiano, a santa foi levada para a Itália, onde foi entregue a uma família em Veneza, quando passou a ser a babá e amiga da menina. Bakhita conheceu Cristo com as religiosas de Santa Madalena de Canossa, onde ficou com a criança enquanto a família teve que voltar à África. Foi batizada aos 21 anos, recebendo o nome Josefina. Dedicou-se por mais de cinquenta anos às várias ocupações no convento. Foi cozinheira, responsável pelo guarda-roupa, bordadeira, sacristã e porteira.
A “santa irmã morena” morreu em 8 de fevereiro de 1947. Em 1992, Bakhita foi beatificada por são João Paulo II e canonizada pelo mesmo Pontífice em 1º de outubro de 2000, após o reconhecimento da cura milagrosa de Eva Tobias da Costa, brasileira, moradora de Santos (SP), que havia rezado pela intercessão de Bakhita em 1980.
“Deus cuidou de Josefina Bakhita, a acompanhou no processo de cura das feridas causadas pela escravidão a ponto de tornar seu coração, sua mente e suas entranhas capazes de reconciliação, liberdade e ternura, acolhimento e escuta”, lembrou o Pontífice.
Por fim, na mensagem, o Papa incentivou todos a continuar na luta contra o tráfico de pessoas e toda forma de escravidão e exploração. “Convido todos a manterem viva a indignação – manter viva a indignação! E todos os dias encontrar forças para se comprometer com determinação nesta frente. Não tenham medo diante da arrogância da violência. Não se rendam à corrupção do dinheiro e do poder”, conclui.